domingo, 25 de dezembro de 2011

Flor e abismo?



Eu trago comigo a doença. Adentro nos corredores, invado as recepções, e algo em mim incomoda. Eu sinto. Talvez o tumor esteja na minha alma, sambando em todas as vibrações, sendo o centro. Talvez a alma esteja mesmo apodrecendo. Algo em mim apodrece, te digo. Digo, disse que tenho medo da morte, mas vejo ela todos os dias rindo ao meu lado e me oferecendo aquele avental branco como as paredes dessa casa que me fazem chorar. Eu te disse. E você fez disso uma piada. "As pessoas não morrem quando querem morrer, querido!". Me disse. E aquele sorriso amarelo e os seus olhos gastos me deixaram repentinamente sem ar. Foi quando descobri que já estou morto, assim como o personagem do Caio. "flor e abismo"? Me pergunto, mas só vejo o abismo, o abismo: agulhas, seringas, soros, enfermeiras, vômitos! É você que vai trazer a flor? E quando? Cara, venha logo me salvar, traga nos bolsos um cigarro, pode ser fino, não ligo. Tomamos uma dose em qualquer lugar, mas vamos sentar no meio fio por quinze minutos e me deixa falar sem pausa. Me deixa dizer como é essa dor? Me deixa chorar e rir e lamentar e fingir que vou me recuperar no dia seguinte. Me deixa ao menos ter a ilusão que depois que você for embora eu vou poder descansar tranquilamente e não mais ligarei o computador, nem ouvirei Adele, nem lerei nada sobre as outras aventuras conjugais. E não serei feliz, mas finalmente calmo. Eu vou desligar as luzes, fechar a casa, colocar uma garrafa de vodka debaixo do braço e o livro do Caio debaixo do outro, vou pegar qualquer avenida e vou parar na porta da sua casa, vou bater e esperar que você me atenda e me oferça maracujás, faça um drink e me ponha no seu braço e me embale. Até que eu durma e esqueça que estou sufocando, sufocando.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Territórios



É. Nos disseram que temos certos espaços. Lugares restritos na cidade onde podemos dar as mãos, trocar carinhos e beijos. Também nos disseram que qualquer forma de amor nossa é indecente, indecorosa e fere as crianças e os velhos. É , eu sei que não podemos andar nessa rua vazia de mãos dadas sem medo dos xingamentos, dos protestos, das pedradas. Sei que por mais bonito que pareça, ou mais singelo que o afago seja, sempre será repudiado, ou pelas mãos da polícia, ou pela sua mão que é tão igual a minha. Por isso nos deram certos bares, algumas pousadas, os banheiros públicos. Por isso há uma bandeira, a luta, todo esse farfalhar de pequenas conquistas e distância enorme dos outros que são iguais, normais, e que não ofendem. É. Eu ando aprendendo direitinho. Tenho contido os olhares, subornado os amigos, e continuo amando às escondidas. E quando digo que quero dar as mãos, é apenas um gesto sem nenhum outro interesse além de dar as mãos mesmo, entende?. Dá para ser mais simples, sermos mais simples. Eu quero te ver em qualquer lugar agora, te abraçar com calma, beijar o canto dos teus olhos e sair por aí, mesmo que te esqueça amanhã, mesmo que seja apenas uma vontadezinha vazia, mesmo que eu não sinta nada (porque não sinto). Só queria que as coisas fossem menos complicadas, que me deixassem expressar sem medo. Que você me deixasse expressar, saca? Porque aos poucos essas coisas vão apodrecendo e eu vou apodrecendo junto. Porque aos poucos a cidade vai ficando cada vez mais restrita e a diferença se acentua. Porque aos poucos eu vou cansando, esqueço teu número, deleto as redes sociais e dispenso essa coisa simples que queria te dar.

domingo, 23 de outubro de 2011



Há um misto de paz e agonia por todos os lados. Eu não te sinto mais doer aqui dentro, mas ao mesmo tempo ninguém mais me doi. Deve ser por isso que a escrita anda faltando, talvez por isso que não leio mais os mesmo poemas, não recito os mesmos versos. As gavetas estão todas cerradas com os projetos, acho que foi lá que encerrei a ideia de continuar te amando. Acho que foi num cômodo vazio que te tranquei. E junto esqueci essa coisa meio músculo, meio entranha que vivia pulsando em mim. E agora ando por aí sem pulsação. caminhando pelas relações mais abjetas, sendo um numa soma de casos. O telefone finalmente toca, o encontro se marca, mas eu não sinto vontade alguma de ir. Eu acordo tarde, invento desculpas, deixo propositalmente o celular desligado. Escuto todos os dias a mesma música, todos os dias eu choro quando a Adele diz "don´t you remember the reason you love me". Mas de fato nem eu mesmo me lembro. Acabamos envelhecendo, acabamos apodrecendo, acabamos duplamente sozinhos. Eu vejos as cicatrizes e todas os traços novos que surgem na nossa pele. Cada marca, cada litro novo de vodka ingerido, cada carteira de cigarro amassada num cinzeiro entupido. E torço para que os caminhos se desencontrem, torço para que a distância perdure. Que essa falta de notícia, essa falta de palavras permaneçam. Tenho contido os dedos, tenho freado a língua. Estou até andando em outras rodas, me drogando com gente nova. Ando até mais paciente, até mais solidário. Escuto conversas chatas de amores novos, bebo com pseudo-intelectuais e fingo não me doer a ofensa. Parei de pulsar entende? Sou contido. Como algo que foi acorrentado e impedido de sair. Sou finalmete sociável. E as vezes me pergunto que merda é essa. E nessas horas, tenho recaída, fricciono uma mão na outra, grito o teu nome na escuridão e procuro ávido as chaves que te tirem daquela gaveta

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Porque você me parece um conto de Caio. Desgrenhado, vivo. Absorto em suas viagens, sozinho na sua música. Porque hoje eu dividi o cigarro, mas queria apenas te dizer:
- Já leu Retratos?

Queria apenas te dizer que me imagino ali, que te imagino ali. Mas você nunca oferece o serviço, e eu nunca tenho corgem de te querer mais perto. Apesar de sempre procurar nos bolsos a moeda. Essa coisa de você ser assim distante perto, excitantemente passageiro. Essa coisa de eu ser assim totalmente lerdo. Será que vai acabar nos levando a algum lugar? Ou apenas vou ficar ao teu lado esperando a próxima palavra, a próxima bibliografia. É, eu sei que ando te duplicando. Deve ser desejo, vontade, tédio. Mas não, eu queria mesmo desvendar esse caminho, eu gosto dessa coisa de enigmas, essa coisa que cheira a mofo, livros velhos e muita leitura. Eu gosto muito de você. E seria tão mais fácil se você facilitasse o nosso caminho. Seria mais fácil que você não frustasse essa expectativa. E fosse logo ao retrato. Mesmo que no fim da semana eu constatasse que ando envelhecendo. Eu já me sinto velho, cara! Mas você bem que poderia salvar pelo menos uma semana dessa vida. Você poderia colorir todas as manhãs? Posso realmente te esperar na janela? Eu levo os cigarros, o café, e todos os Bob's que peferir. Mas se você sumir, ao menos deixa um aviso na portaria, escrito bem assim:

- Não, não li esse conto!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Coisas inconscientemente ditas.

Eu tentei trocar as fichas, apostar em outras viagens. Tentei te excluir desse jogo e acabei ganhando alguns pontos. Hoje não me doi mais as mesmas palavras, hoje tuas atitudes não tem peso. Tenho me relacionado melhor com o mundo, tenho entendido a natureza. Estou até mesmo vencendo alguns medos, traçando alguns planos que você não incentivava, me reconhecendo no movimento. E essa distância me faz te conhecer melhor, bicho verme! Te vejo como eu, egoísta, mimado, te vejo humano, fraco. E gosto de te atestar imperfeito. Você está morrendo, eu sinto. Não conto mais os dias de ausência, não conto mais tuas grosserias. Estão florescendo outros amores com a primavera. Eu troquei o disco, mudei de foco, então pode continuar inconscientemente me sabotando, eu não ligo! Eu não queria que fosse assim, mas já que é, deixa ser. Sem respeito, sem cautela, sem lembranças, sem cuidado. Deixa acontecer, com o esquecimento eu supero. Já que com as dores eu não aprendi, com a ausência quem sabe, não dê certo?

domingo, 21 de agosto de 2011



"When will see you again?"


Quando fecho os olhos e Adele canta, nós somos felizes. Quando fecho os olhos, sinto tua mão ultrapassar meu ventre, sou capaz de reconhecer seus pelos no meu ante-braço. Nós descansamos nesta cama deste quarto vazio e você é ameno, doce, realizado. E esu sou enfim protegido, finalmente satisfeito. De olhos fechados eu te vejo melhor e você me enxerga! Não há competição, nem ciúmes, os outros não existem. O único ruído é da garganta da Adele rasgando nossa pele, veias, músculos. Nós nos ferimos também com as unhas e não doi, amor. Nós nos amamos e é bom, amor. E nós somos inantingíveis. Eu te toco e sinto o planeta. Você me toca e eu sinto o verso!
Porque essa certeza que me acompanha não te segue?

- Que seríamos felizes. E plenos. E doces. E simples. Eu te ofereço o caminho e você desvia a rota. Fecho os olhos para esquecer que você não vem. Para sentir tuas mãos penetrando nas minhas, segurando meus dedos. Para sentir teus lábios na minha nuca, eu fecho os olhos. Para sentir teu sexo no meu, eu fecho os olhos. Para te sentir, eu fecho os olhos.

Então, porque você não abre os seus?










quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Tô tirando férias, dando um tempo disso. chega de amar, chega de me doar, Chega de me doer" Caio F

O teu espaço está vazio agora. Tenho o nada e ele não me completa. Apesar de sentir os móveis no lugar, as roupas ordenadas, apesar do chão estar limpo. Eu me sinto incompleto. Esperando um outro objeto de idealização. Não há mais versos, não há mais prosa, as páginas estão todas em branco, a agenda está engavetada. E você está por aí. Eu estou por cá. Cada um para o seu lado, vegetando. Porque eu sei que você também não é completo. E sei que é esse medo de ser um que te assusta e te afasta. Agora quero me conter, me poupar, cuidar desse rosto, desse corpo, desse meu ser Quasímodo que você propagou. Não te quero bem, não te quero mal, não te quero perto, nem longe, apenas não conjugamos. Tô saindo de férias de mim, te vomitando no asfalto para que não sobre mais nada, nem um resto, nenhuma víscera. Estou me curando, mais uma dia sem, só mais um dia... (repito, antes de dormir).

domingo, 10 de julho de 2011

Reclamações da escrita...

Se eu disser que já escrevi o suficiente por hoje estou mentindo. A escrita permanece aqui engasgada. A palavra entalada na garganta, o signo entre os dedos. Quero dizer, quero dizer. Mas só há procuras, só há vazios. Espaços em branco. Não-lugares que você não preenche mais. Que eu não preencho. Você também é literariedade, um signo. Você, idealização da minha escrita pobre, das minhas rimas miseráveis. Fazendo da vida privada uma cópia, uma mimésis mal interpretada, um plágio de mim. A escrita ocupando os sentimentos, a escrita como um fantasma a rondar minha casa, a me torturar. Ela a te engolir em necessidades loucas, a te devorar pela necessidade de te ter como referência. A escrita é pedra, abismo, arma de fogo prestes a vomitar. É cratera, poço onde me afundo, me afundo, vou bem fundo e volto, tal qual a Ângela Rôrô. E quando volto, piro, dou respostas ácidas, termino relacionamentos e retorno a você, musa da minha escrita, persongem da minha farsa. Você que não é você, entende? É apenas um personagem parecido, distante das tuas indecisões, dos teus vazios, dos teus podres pensamentos, dessa necessidade sua de ser o centro. A escrita, é ela quem te pede de volta, ela quem te espera, e te quer mais solícito, menos indiferente. E é ela, a escrita, não eu. É ela quem implora, se ajoelha, reclama. Eu, sou só seu corpo. Submisso à escrita... E a você?

domingo, 3 de julho de 2011

Para o Bauman, para as feridas...


Entro. Bato a porta. Ela permanecerá assim por longo tempo. Sento. Meus braços estendidos sobre o braço deste cômodo, nos pertencendo num longo abraço. Deixo sangrar. Ainda há muito sangue, as feridas estão todas abertas, daqui a pouco me levanto e ponho compressas, mas agora preciso deixar jorrar, preciso deixar correr, porque me dói doloridamente. Quem sabe depois ainda tomo um café, preparo umas torradas, me debulho em lágrimas. Mas agora quero apenas esse abraço seco, esse abraço morto, esse abraço frio. Agora preciso deixar jorrar em silêncio, secar os poros, esvaziar as veias. Preciso de um cigarro, mas o isquiero não está aqui por perto, então deixa estar. Assim, com o filtro entre os dedos eu me distraio. Despejado nessa noite onde apenas os grilos conversam. Eu não sou palavra, nessa noite não sou verso. Quem sabe mais um tanto e eu me levanto, arrumo a casa, reorganizo os móveis, mas agora deixa a pia entupida, deixa o chão enlameado, me deixa assim, sem cheiro algum. Mais tarde talvez eu limpe tudo, coloque as lembranças num saco plástico, inclua nele as fotografias e despeje tudo no lixo. Por agora, deixa estar, tudo assim muito calmo, tudo assim muito quieto, tudo assim bem infantil, enquanto eu me grito de dor. Deixa eu estar assim, lá no fundo, onde ninguém ousou entrar, e deixa todas as portas cerradas, não quero visitas. Meus olhos estão mortos, minha pele está escamosa, eu sei. Daqui uns dias me confundo como os movéis e vegeto. Ou piro numa outra viagem, numa outra ideia, talvez me afogue nessa liquedez, talvez até te deseje bem. Mas agora, deixa estar...

terça-feira, 28 de junho de 2011

"Meu primeiro amor,
Foi como uma for que
desabrochou e logo morreu"

Eu queria ter sido mais consciente, ter contido os pulsos, ter travado os dentes e poupado as palavras. Se houvesse negligenciado as emoções, os olhares, teus toques displicentes no meu corpo, a tua ausência na minha nuca que ainda te espera. Poderia ter me conservado como antes, anarquista, desleixado, deslumbrado com pequenos detalhes, com passeios bobos. Hoje você não está mais nesta sala vazia de poltronas enormes e braços longos. Eu sou apenas esses braços solitários, objeto trocado na multidão, com as expectativas sempre em baixa. Sou agora, sem você, suas lembranças, suas músicas, seus comentários, seus vídeos, suas piadas, os seus. E eu me perco de mim, me encontrando no seu esterótipo, sendo exatamente aquilo que gostaria que fosse. Sou público, ácido, meo puta. Um tanto isento de compromisso, de solidariedade, de consideração. Hoje me sinto pedra, me sinto gelo, me sinto teu coração. E respeito os transeuntes, as avenidas, respeito o movimento. Passeio pelo perigo, me ofereço como troféu a qualquer elogie meus olhos, trave minha cintura, gaste versos ao meu ouvido. Eu acredito em todos, pois você me fez descrente, me fez forma, me fez norma. E se sorrio bonito, se sou arrastado pelos braços e causo ciúmes alheios, se reinvento amizades é por pua soidão. Essa falta ainda me castiga o peito, e sem você sou só abismo, cratera. Apesar de aceitar a vida, aceitar meu corpo, potencializar as energias, apesar de mudar o placar, de vencer nessa corrida louca de bestas desgovernadas, aqui dentro ainda há alguém que grita teu nome, que te deseja e te quer

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"De suas palpébras...
Nós.. Nós batíamos as pálpebras.
Chamava-se a isso piscar.Um pequeno
relâmpago negro, uma cortina que cai e
se ergue: deu-se a interrupção. Os olhos se
umedece, o mundo se anquila"
Sartre

Por
que eu piro quando pisca. Desejando não ser apenas um cumprimento, trivial como todas as saudações, banal como todos os amigos. Porque a piscada para mim é convite, é desejo fermentado, solidão declarada. É sexo futuro, beijos presentes. É olhar interrompido, morto, estatelado pela vontade de chafurdar em amor, em gozo. Eu te gozo em mim. Ansiando por uma conversa, um cigarro dividido, a droga na mochila - quando há de me chamar? - Eu imagino. O seu, nosso, desejo fantasiado. Porque quando passa e pisca, eu sou cratera. Um chão em declive, uma erosão. Sou apenas caco, à espera. E umedeço os lábios, mordo a língua, te desejo na garganta. Há de chegar? Os meus dedos se retorcem, pedem para navegar nos teus cachos, no teu rosto, para se perder nas tuas costas. Eu te convido, com as unhas nos dentes, para deitarmos em qualquer lugar, enquanto te ouço ao pé do ouvido, essa voz arisca, esse riso debochado. Te ouço e sou apenas ouvinte. Fecho os olhos e você sussurra, sussurra, sussurra, sussurra em mim. Em mim se faz rei, monarca, déspota. Em mim, um latifundiário! E eu sou apenas chão. Alegre por você piscar um dos olhos como quem lança uma granada no meu colo. E eu explodo, me despedaço, grito. Eu imploro: passas por mim e pisca, pisca, mais uma vez.

domingo, 5 de junho de 2011

Manifesto ao teatro III*

Eu sei, senhor teatro, que o senhor anda cansado das minhas reclamações. Sei que o senhor anda compactuado com aquele cara que dizia sobre mim para todo mundo "É até talentosinho, mas nunca está feliz, reclama de tudo!" E acrescentava mais alguns xingamentos. Mas "hoje sou eu que estou te livrando da verdade, te livrando"**. Hoje eu me canso, Sr. E não é uma despedida, jogar tudo pelos ares, desistir. Quem escolhe esse caminho não o abandona jamais. O primeiro cara que se apresentou para mim como Ator, me disse uma coisa que nunca esqueço " - Quando se namora o teatro, você pode até largar, mas quando é paixão de verdade, danou-se, é para vida inteira". E eu sei que é: para toda a vida. Hoje eu sei que esse cara não é tão respeitado, que as pessoas o evitam, que ele não é feliz. Mas eu nunca duvidei da gana, do amor, da necessidade que ele tem dessa coisa chamada Teatro que não sei explicar o que é. Mas que bate uma canseira danada. Canseira de ouvir que pessoas que poderiam estar construindo comigo tem que trabalhar oito horas diárias num shopping center fodido! E que outras são apenas deslumbre, salto babado, e me encharcam de descompromisso, vaidades, falta de tempo. Cansado de ouvir as mesmas pessoas falando as mesmas coisas sem saber de onde vem o pogresso. Cansado e irritado de ouvir opiniões sem cabimento, de ver pessoas sem ter para onde correr - como eu!. Cansado de ouvir o seu nome em vão senhor, como justificativa para deslizes, como convite para agradáveis situações. Cansado de orar sozinho numa estrada pedregosa, sem reconhecimento, nem lenço, nem documento. Cansado de carregar coisas nas costas, de abusos de poder, de portas cerradas. Cansado de escrever documentos, subir ladeiras, me alimentar mal, ouvir pessoas tediantes, pasar por cima de alguns orgulhos, enfrentar os medos - sim eu quero meus medos de volta! - Cansado de ainda não saber que caminho seguir, para que lugar fugir, quais alianças fazer. Cansado das ironias finas, das invejas sorrateiras, dos dementes. Cansado de saber que é apenas um cansaço e que logo há de passar.

*é apenas um desabafo, qualquer semelhança é mera coincidência
** Ana Cristina César

sábado, 4 de junho de 2011

Para um amigo antigo....

Eu te quero bem. Assim, mesmo após todo o tempo - meus erros, os teus, ponteiro que não se cruzam - Mesmo que você nem se importe: eu te quero muito bem. Com todos os advérbios, adjetivos, complementos, termos integrantes, acessórios, com todos os acessórios. Eu te quero como uma gramática: normativa, cerceadora, chata. Um bem proveniente de um mal supremo. Porque eu acredito que teus potenciais poderiam te levar além, mas você optou pela escuridão e eu respeito. Porque você me ensinou a cair e a achar belo o tombo, me ensinou o desdém e o des-vínculo. Me mostrou como a minha insegurança é um cartão de visitas para a devassidão, o fracasso, a dor. Porque você acreditou em mim quando nem eu sabia. Você foi pai, guru, amigo, professor. Um pouco irresposéval, grosseiro, charlatão. Mas um amigo: presente, inquietante, marcante. Eu sei que você não aceita palavras bonitas, arroubos de declaração. Você não permite o belo viver, bater asas, criar rumos. Você é imundo! Você é sujeira e só! Mas as tuas imundices aos poucos foram me contaminando e hoje, não sei te tirar de mim. Você há de existir para sempre como uma influência devastadora. Uma dessas pessoas que a gente lembra nas noites de ócio, ódio, horror. Coisas que você ensina. Mas mesmo assim, queria que você soubesse e achasse bacana essa minha declaração rota. Eu te quero bem!

terça-feira, 24 de maio de 2011



Vem manso,

Abre os braços, ombros altos

ante-braço, punhos, cotovelos.

Milimetricamente

perfeito.

Pés sobre a areia,

Eu sou o grão.

Esorrendo entre os dedos,

sambando nos tornozelos,

panturrilhas, joelhos, coxas-

redondas, roliças, reveladoras -

Para onde se encaminham?

(Mordo o lábio inferior)

De um salto escorrego entre

os mamilos, atravesso as

lombadas, me penduro
na cintura.

(Hora de saltar!)

Respiro profundamente,

olho espessura, diâmetro,

profundidade.

E avanço com as mãos!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre o grupo a tua lona e minha guria


Duas coisas tem tomado o meu tempo e me mostrado que ando envelhecendo e que há sentido em acordar todos os dias, erguer a cabeça, pisar no asfalto. E essas duas coisas são fragéis, pequenas, indefesas. As duas coisas a dar seus primeiros passos, lentos, largando o engatinhar. Duas coisas a titubear quando tentam ser mais rápidos. Essas duas coisas a me provar que dois séculos de existência é muito pouco para ser tanto. Ambas a me condenar e a me conquistar segundo a segundo. A torturar meu sono, a me provocar insônia. As duas condenando a chuva - caso ela caia não há espetáculo, há gripe. Meus amores: Minha sobrinha e o meu grupo de teatro. Meus horrores: a rapidez com que ela cresce e larga os meus braços, a velocidade com que as pessoas se afastam e outras se aproximam esquivas. Essas duas coisas sendo meus e tão dos outros. Ambas a me evitar no momento em que mais preciso, a exigir independência, segurança, disponibilidade. Elas a me dizer que é preciso cautela e a melhor forma de confiarem em mim é eu confiar em mim mesmo. Ambas a reforçar o meu medo da solidão, das noites frias, da miserabilidade. Elas a exigerem que eu seja uma pessoa melhor, leia livros, trate as pessoas com mais sociabilidade, esqueça os parasitas da arte, da família. Esquecer que ela é uma menina que vai crescer, há os rapazes lá fora, os velhos tarados. Esquecer que artista é pseudoprofissionalizado, que não há incentivos, lugares, coletividade. Que crescer no teatro dói como vai doer nela enfrentar o mundo um dia e não haverá sempre aquele canto entre a porta e o sofá onde ela se esconde - como queria me esconder ali às vezes. Eles:o meu grupo,minha guria com pouco mais de um ano,sendo as coisas melhores do meu dia.

terça-feira, 3 de maio de 2011




Ela põe as mãos onde não deve.
Naquele espaço-esgoto
onde te escondo. No sujo
canto onde te guardo,
no frio leito onde gangrena.
Ela mexe nas tuas cascas
- sem luvas, máscara, esparadrapo -
Com unhas, bactérias, calos.
Se por acaso você sangrar?
E a minha pele salvaguardada
E o meu corpo templo-casa
A minha mente putrefata
Se o meu eu se inundar?
E minha vida tão pacata
compadecida, inviolada
com essa ferida guardada,
se ela se rebelar?
Talvez ela torne, retorne, volte
Se assuste com o corte
E perceba ser bem melhor
não te tocar.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Amor de bolso

Para Bauman






Você o guarda no bolso
da calça, entre as chaves,
as moedas e o papel amassado.
Carregando-o para cima e
para baixo. Sacudido na
beira do saco.
E se houver um rasgo?
Um buraco ocasionado
pelos seus flamejantes passos.
Um rombo nos panos
eternamente costurados.
E se ele cair estatelado
no asfalto?
- O que faço?
Te respondo:
- Procura rapidamente
um outro amado!

sábado, 23 de abril de 2011

Não há mais tempo para a invenção de amores. Envelheço. Vejo as rugas, as covas, os desgastes do meu coração. Quando leio um verso, sou incapaz de guardá-lo para outrém. Toda a poesia é para mim. Para a minha desolada solidão. Movimento egoísta. Estanco o-que-podia-vir-a-ser com poemas: meus, da Cecília, Hilda, Ana, Ilma, Gilka. Poesia feminina que me atinge nas partes mais baixas. Atingindo meus cabelos, seios, clitóris. Sou uma mulher (des)esperada. À espera da pessoa certa? Do romance perfeito? À espera de esperanças que insisto em manter vivas? Não mais. Nnguém à espera. Desesperançada, desmotivada, descompassada, des. O quê mesmo? D-E-S-E-Q-U-I-L-I-B-R-A-D-A! O prefixo a me provar que as coisas podem ter existido, mas agora elas morreram, não existem mais, des-existiram de mim. Desavisada, tentei me erguer nnos últimos meses, tentei ver o mar, escrever, cantarolar umas canções femininas: Vanessa, Tiê, Céu, Marisa, Janis, Norah, Ângela, Shakira. Todas essas mulheres nos meus ouvidos a me convencer a desacreditar no amor. Sofrimentos alheios tão meus. Desgovernada, descompassada, desarticulada me vejo des(conhecida) de mim. Sem saber ao certo o que isso significa. A repetir as mesmas palavras, resposta para todas as perguntas: - É o desamor!

terça-feira, 19 de abril de 2011

A eterna dor


Porque eu sinto doer sempre. Não uma, nem duas vezes, mas sempre. A cada badalo do relógio, a cada giro dos ponteiros, está lá doendo. Algo que eu não sei bem dizer o quê. Algo que não tem nome, cor, cheiro. Que acho ser você, mas não é. O que dói é bem maior que seu mundo colorido repleto de submundos inventados, amores gastos e umas doses de repetição alheia. O que dói em mim: dói. Não é uma coisa que se cura com birita. A vodka apenas ameniza, mas não passa. talvez a minha dor seja invisível e isso a torna ainda pior. Como se eu tentasse vencer algo que não vejo. Esmurrando o vento, chamando de inimigo meu maior amigo. É isso que não é capaz de compartilhar? a dor? de ser tão pequeno nesse mundo extravagante? Sim, é assim a dor. Uma constante comparação, capaz de tornar ínfima qualque metáfora pós-moderna. A dor está lá sempre como um bom monstro que aniquila, maltrata, gasta, te devora. A dor me dilacera. A dor: a ilusão de que há alguém que se habilita a também dor: a dor : a decepção daquele que a vende por não querer: a dor: sendo vendida porque nunca a sentiu deveras. Eu sinto a dor e isso não me torna superior. Ao contrário, me sinto fraco, inseguro, incapaz. A dor não permite que as ideias tomem corpo, que os planos ganhem traço. A dor apenas dói. A dor apenas sabe doer. Como agora, que está doendo doloridamente.

domingo, 10 de abril de 2011


Pensei em te ligar agora. Sobram créditos no aparelho celular e sinto frio. Na verdade, meu corpo quasenu nada sente, a não ser estafa sonolência tédio: sempre ele - o niilismo.

Pensei em te ligar. Talvez até disquei os números. "-Chamou?" Não ouvi. Há algum tempo já não nos ouvimos. Eu sempre monologozando a sua presença. Falando pelos cotovelos, joelhos, dobradiças. Você em silêncio, contemplando a linguagem. É nesses momentos que os versos-negros, as palavras-farpas te sobem ao crânio? Ou está como sempre excitado com o passado, a noite anterior, o velho-novo-revivido-amor?

Pensei em te ligar. Pensamento bumerangue, esse caminho infértil das palavras: a caneta incerta, o papel problema, as ideias vácuo. Tropeço, caio, espatifo na página em branco. Herói é o inseto!

Pensei em ligar. Para qualquer número, qualquer lugar. Ouvir uma voz nesse domingo. Ouvir qualquer coisa além das minhas censuras, meus piores devaneios. Um dia me busco dentro de mim. Sim, caí numa farsa de não ser-eu. E não me recupero.

Pensei ligar. Digito os mesmo números (seus) pela quarta quinta vez, não lembro. Somos dois ausentes. Cansados, inclusive, de intercambiar solidões. Bibelôs inconscientes dessas mocinhas. Somos os fétidos passageiros, os decadentes públicos. Os eternamente gozados (ou gozosos?). Sente esse peso nos fim das tripas? O nó de marinheiro na garganta? Tenho a impressão que só nós dois temos esse verme. Mas o mundo todo anda desnutrido, meu bem.

Pensei. Mas foi rápido. Um instante apenas. Sabia que não tinha papo. Não temos modos. Você não quer mais me escutar. Espero que continue nessa procura: a busca eterna. Porque, a conclusão ainda me desola. Soletro as letras, me despeço. "Como não estragar esse texto?" Me pergunto. Disco os números pela última vez, tu tu tu tu, não me atende

sexta-feira, 11 de março de 2011

Teu nome,
Imponunciável na boca
Interditado na garganta
Presente no delírio febril.
Teu nome,
rodopios frequentes na noite,
nos dedos que percorrem
teus alvos, retratos, postais.
Teu nome,
Uma obscessão louca
Uma dose rota
O desastre.
Teu nome,
Escrito em toda parte
Rabiscado no cerrado dos punhos
Tatuado em mim

Algumas digitais intransigentes
Ainda te marcam em mim.
Entre os riscos do meu corpo
Sobrevives, flutua, quase refloresce.
Sou um campo de solo
fértil para o teu plantio.
À espera ansiosa da sua seiva.
À procura dolorosa das raízes.
Cave-as! Mais profundas que outrora
Mais eternas, étereas, ternas.
Extensas como o desmatamento.
Sedentas como as olhas que caíram.
Oh! Démeter abençoada, com suas
lágrimas inunda essa mata
E permita que no deserto renasça
o amor!

segunda-feira, 7 de março de 2011

"Eu sou o amargo da língua"

Tenho pensado em como não me encontro mais em mim, nem nos lugares que ando. Como não caibo nos círculos que vejo formados a minha volta. Ando evitando os amigos, o papel em branco me dilacera, as rimas me evitam. Tenho me frustrado com os livros, me decepcionado (sempre) com as pessoas. Como se não estivesse nos lugares, como se sobrasse nas rodas. Meu telefone mudo, os convites acumulados na caixa de email, os projetos - arquivos perdidos numa CPU inativa no armário. Minha casa de portas abertas- visitas e mais visitas. Elas notam a minha ausência. "- Ele é assim triste, mesmo!" "- Deve ser difícil esconder" "- Em que ele está pensando?" Todos errados em seus palpites. O niilismo de sempre que me devasta nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril, inunda a minha casa de telhas frouxas e colunas fragéis. Eu sou a ausência em pessoa. Insatisfeito com as coisas, temendo o próximo passo. Eu sou o desânimo, que se despede antes da madrugada, que vira, ávido, o copo de vodka cerveja refrigerante água gelo. Frígido, eu. Sem nenhum comentário, nenhum assunto a especular. Sem interesse pelos namoros alheios, concursos alheios, políticos alheios. Eu sou o alheio. Que recorre ao semblante apático, desinteressante. Eu, o interessante demais para tanto. Que revira as caixas de cartas fotografias livros histórias promessas. Eu, carta. Eu, fotografia. Eu, livro. Eu história. Eu sou uma promessa. Que não se paga, não se cumpre, não se finda. Farto da felicidade de merda, das dores no peito, fantasmas na nuca, infórtunios publicados, republicados, revistos. Eu sou isolamento. não se aproxime! Eu sou completo deserto. De areias movediças e oásis falsos: um deserto. Eu sou o vômito. Repleto dos excrementos de outrora, o dejeto posto para fora , o instante após a ruminação. Eu: um pensamento mesquinho a ocupar os dias, meses, anos. Uma placa anunciando o perigo. Um pedido de socorro silenciado. Repetindo a mesma frase da Glorinha "Eu quero ir embora!" Eu, o inocente. Enganado pelos amigos, apunhalado pelas costas. Que pensa, considera, avalia. Que exige a mesma honestidade nas palavras. Eu, o arrogante. Que grita, ordena, acumula rancores. O indesejado no baile. Eu, o social. O mais falso de mim na pista, que beija todas as bocas, sente-se uma puta, grava contatos que não se conectam; Eu, uma farsa. A maior verdade minha. Máscara. Personagem. Roteiro. Ficção. Teatro. Eu, Me acabo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O transeunte

Procuro no escuro
de todos os rostos
Um transeunte
- único, derradeiro -
Que traga a última
pintura da minha casa.
Procuro o transeunte
desesperadamente,
como quem se cansou
de jogadas, flertes,
telefonemas, postais,
doses e doses de
álcool, alguns cigarros
e várias feridas.
Este transeunte
não surge nas madrugadas.
Causa, ao contrário,
bruta insônia, dores
abdominais, ânsia,
asma, azia.
O transeunte,
presente nos lugares
por onde passo
em seu encalço.
- Um dia paro de persegui-lo!
Um dia piro,
por me tornar
uma parada.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mãos

"As mãos são mais culpadas no amor
Pecam mais, acariciam mais
O seio é passivo
a boca apenas se deixa beijar,
o ventre apenas se abandona.
mas as mãos, não. São rápidas e quentes,
percorrem o corpo"
(senhora dos afogados, Nelson Rodrigues)

Ainda lembro das tuas mãos sobre as minhas mãos, das minhas sobre as suas. Não sei ao certo quais eram as minhas e quais eram as suas. Sei que lembro a textura, o movimento dos dedos, o palpitar da pele. Sei que lembro da demora com que elas se tocaram. Havia medo, receio, o gosto da espera, sei lá. Mas, após o primeiro toque, punho- pelos-articulações trabalharam em conjunto. Parecia afronta, uma bestial novidade, uma necessidade louca de ter. Eram apenas mãos que se encontravam sôfregas, desejando ardentemente as carnes, as veias, o sangue. Mãos friccionadas umas pelas outras, um farfalhar de primeiras ideias, intenções segundas, vontades urgentes. As mãos: Sedentas, possuidoras, canibais. Lascivas mãos que não se largavam e que se comportavam como meninas travessas cruzando as pernas numa avenida qualquer. Mãos indisciplinadas, revoltas. Mãos que juntas procuravam uma explosão qualquer. Mãos que separadas perdem a força. Mãos, cê quer?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Taí...

Eu fiz tudo para não gostar, para fingir que a vida era melhor sem. Nunca gostei dessas amarras do corpo, da mente. Nunca gostei de ser dois. Preferia andar por aí escrevendo poemas para ninguém, recitando versos para mim mesmo. Casei com mortos, com livros empoeirados, com projetos alheios. Quis ser totalmente meu, tipo masturbação completa: só eu e meu corpo: só eu e minha mente: só eu.Inventei amores que apodreciam com a velocidade dos frutos em praças públicas. Os meus amores eram públicos, pura literatura de quinta, sexta categoria. Pretexto para ter de quem falar. O amor, às vezes, parece isso: um pretexto. Para contar aos amigos, anotar na agenda, pensar antes de dormir. Um mero pretexto para um texto.
E hoje, você me invade com tanta calmaria, sem arrabentar as artérias, sem depredar as paredes dessa casa arruinada. Você entra, senta, me beija os lábios e vai embora, numa simplicidade que me cativa. Que me deixa assim, sem pretexto para um texto legal, visceral. Você me deixa sem poesia, desarmado nas minhas defesas, contradizendo as minhas teses sobre "o amor é uma droga que vicia os jovens...." e blá blá blá.
E eu me sinto tão bem nesse desconforto.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sobre o amor ou quase isso...

Porque eu não quero me sabotar no que há de mais humano: o amor. Porque cansei de pisar no acelerador esperando que o outro preferisse pular fora a me aturar por mais alguns dias. E agora, eu só queria que alguém me amasse um pouco de verdade. E não há nenhuma poesia nessas linhas, concordo. Eu não queria escrever nada, minha escrita sempre foi "movida a ódio" e eu não desejo nos contaminar com a minha rabugice. Preferiria deixar as coisas na minha mente, te guardar do meu jeito cá dentro do peito. E esperar que você voltasse em silêncio para mim. Mas a insegurança, o velho medo, a desistência constante, a vontade de contar os detalhes... Todos: os detalhes. Teus olhos em fuga, as mordidas na tua nuca, a tua língua desenhando meus lábios, os meus lábios desenhando os teus lábios. Os nossos cabelos: prisioneiros da nossa sofreguidão, as nossas mãos pecaminosas que se encontravam e desencontravam. Uma orquestra mágica de dois corpos. Não sei se foi a vulnerabilidade, mas eu apostei todas as fichas. Aposto ainda porque quero me livrar dessas coisas que não me compreendem e dessas pessoas que não mais me completam. Queria formar um duo para conversar até as línguas cansarem numa tarde entediante como essa. Queria te ter essa tarde entendiante em que fiquei sem chão, sem perspectiva, sem ar. Sem você


p.s: prometo, aos raros que passam por aqui, nunca mais escrever essas coisas bobocas. Foi um rompante!