segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Territórios



É. Nos disseram que temos certos espaços. Lugares restritos na cidade onde podemos dar as mãos, trocar carinhos e beijos. Também nos disseram que qualquer forma de amor nossa é indecente, indecorosa e fere as crianças e os velhos. É , eu sei que não podemos andar nessa rua vazia de mãos dadas sem medo dos xingamentos, dos protestos, das pedradas. Sei que por mais bonito que pareça, ou mais singelo que o afago seja, sempre será repudiado, ou pelas mãos da polícia, ou pela sua mão que é tão igual a minha. Por isso nos deram certos bares, algumas pousadas, os banheiros públicos. Por isso há uma bandeira, a luta, todo esse farfalhar de pequenas conquistas e distância enorme dos outros que são iguais, normais, e que não ofendem. É. Eu ando aprendendo direitinho. Tenho contido os olhares, subornado os amigos, e continuo amando às escondidas. E quando digo que quero dar as mãos, é apenas um gesto sem nenhum outro interesse além de dar as mãos mesmo, entende?. Dá para ser mais simples, sermos mais simples. Eu quero te ver em qualquer lugar agora, te abraçar com calma, beijar o canto dos teus olhos e sair por aí, mesmo que te esqueça amanhã, mesmo que seja apenas uma vontadezinha vazia, mesmo que eu não sinta nada (porque não sinto). Só queria que as coisas fossem menos complicadas, que me deixassem expressar sem medo. Que você me deixasse expressar, saca? Porque aos poucos essas coisas vão apodrecendo e eu vou apodrecendo junto. Porque aos poucos a cidade vai ficando cada vez mais restrita e a diferença se acentua. Porque aos poucos eu vou cansando, esqueço teu número, deleto as redes sociais e dispenso essa coisa simples que queria te dar.