terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quando abro a porta
e adentro o corredor
e olho:
Você esparramada na rede
Sorriso de paz
envolta em sonhos e nuvens
pouco mais de meio metro
a abarcar tantas vidas.
Constato:
-É isso, afinal, o amor!
Suicido-me
a cada palavra
proferida.
Como quem se joga
da janela do
duplex que não tenho
E caio
no insensato inferno:
teu desprezo.
Pego uma caneta vermelha
E risco de sangue o papel
para exortar de mim
Tua presença constante.
E enquanto escorres
lentamente, entre as linhas
Cravo com ódio e sede
O mais impuro desejo
que despertas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Túmulo:
repouso que terei após de ti
receber ignominioso desprezo
Túmulo:
Cárcere de pedra onde
meus lábios putrefatos
regogizarão.
Túmulo;
Lugar eterno onde
o que resta do meu corpo
prosseguirá te amando

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ei, vamos tomar uma
no bar da esquina?
Eu te conto uma piada
E você me excita com o
tamborilar dos dedos.
E depois voltamos
trôpegos para o meu quarto
Deitamos no chão, mesmo.
Pois a cama é pequena
para caber a nós
e ao nosso segredo
Pensei romper
A carne
Apressadamente
Costurada
do teu peito

Errei o alvo

O que segura
pele a pele,
ponto a ponto
Não arrebenta mais

domingo, 10 de outubro de 2010

Nada poético V


Eu não consigo te escrever, fato! Eu não consigo te dedicar mais nada. Nenhuma palavra íntima, nenhum desabafo, nenhuma estima sem recíproca. Não te vejo mais verdadeiro. Te disseco e encontro erros segundo as regras que imponho. Regras que só eu sigo, mas que para mim são verdades absolutas. Eu sabia que acabaríamos cansando, mas acreditava que eu desistiria primeiro. Sempre fui de trocar as pessoas após uma intimidade profunda, intensa. Mas hoje o teu olhar só me reprova, tuas palavras me machucam e todas as manhãs renovo a promessa de distância que acabo putamente quebrando à tarde. Certas atitudes são definitivas, meu bem. Mudanças na rotina abalam a estrutura de qualquer relacionamento. As coisas postas fora do lugar sejam belas ou àsperas, singelas ou colossais rompem qualquer ligação, qualquer nó, qualquer para sempre. E não me venha com essa história de pôr educadamente os meus erros sobre a mesa, como cartas de baralho. Sempre fui o que reclamas, sempre agi dessa forma. Apenas te amei mais com as suas cartas. Porque não me amou mais com as minhas. Jogue um poquêr comigo! O que não dar é para agir como os outros que não estão jogando. Não dar para arrebentar os pontos da ferida, já tenho quem as arrebente para mim. Eu gosto muito de você. Se isso não te basta, se isso não te deixa sem resposta, lamento. Muito. Talvez sofro, até. Decidi tomar outra atitude. Decidi encarar as coisas a só, a seco, sem esperar por você. Já começei, percebeu? Desci o morro, vi o inferno de dentro e ele não me chocou. E agradeci por estar sozinho, tive mais lucidez, pensei com mais lucidez, twittei com mais lucidez e interpretei ofensas alheias com mais lucidez. E não me trai em nenhum momento. Coisas podem ser evitadas, outras acontecem. Há pessoas que evitam e outras que deixam que aconteçam. Eu pertenço ao segundo grupo. Não aponto culpados, nem vítimas, apresento o movimento e me identifico nele. As coisas sempre voltaram ao normal entre a gente? Acho que a gente acaba se perdendo, arrebentando ponto a ponto. As coisas precisam de um fim, mas muitas vezes ele se impõe sem nossas escolhas. Não decreto nada, apenas digo, como numa oração:

- Sinto sua falta! Sinto sua falta! Sinto sua falta!

sábado, 9 de outubro de 2010


Hoje olhei para dentro de mim e você não estava. Não estava nem mesmo ao meu lado. Quando foi que eu te perdi? Quando foi que houve o rompimento? Porque me pergunto isso se sempre soube que tudo aconteceria em silêncio, como em todos esse anos? A gente gosta de se martirizar, eu sei. A gente gosta de chorar de madrugada ouvindo a Bethânia ou a Tiê. Gostamos de inventar historinhas para fingir que vivemos. Gostamos de sentir ódio. Hoje percebi que nada mais me importa: passado, projetos, putaria. Você unicamente me importa! E quando não te vejo, quando não te conto, as coisas perdem as cores, os sentidos. Eu vegeto, lispectarmente, eu vegeto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Olho para teus cachos
E mergulho,
Confundo-me
Apequeno-me
E quando, então,
Roças neles
a ponta dos teus dedos
Caio - pateticamente
na realidade
Bruto silêncio te cerca
Forte desejo me toma
Cerceamos um ao outro
Entre paredes inimagináveis:

Braços-gêmeos
Mentes distintas
Estilos literários
Inconsequentes

Te olho fundo em cada poro
E te como!