domingo, 10 de outubro de 2010

Nada poético V


Eu não consigo te escrever, fato! Eu não consigo te dedicar mais nada. Nenhuma palavra íntima, nenhum desabafo, nenhuma estima sem recíproca. Não te vejo mais verdadeiro. Te disseco e encontro erros segundo as regras que imponho. Regras que só eu sigo, mas que para mim são verdades absolutas. Eu sabia que acabaríamos cansando, mas acreditava que eu desistiria primeiro. Sempre fui de trocar as pessoas após uma intimidade profunda, intensa. Mas hoje o teu olhar só me reprova, tuas palavras me machucam e todas as manhãs renovo a promessa de distância que acabo putamente quebrando à tarde. Certas atitudes são definitivas, meu bem. Mudanças na rotina abalam a estrutura de qualquer relacionamento. As coisas postas fora do lugar sejam belas ou àsperas, singelas ou colossais rompem qualquer ligação, qualquer nó, qualquer para sempre. E não me venha com essa história de pôr educadamente os meus erros sobre a mesa, como cartas de baralho. Sempre fui o que reclamas, sempre agi dessa forma. Apenas te amei mais com as suas cartas. Porque não me amou mais com as minhas. Jogue um poquêr comigo! O que não dar é para agir como os outros que não estão jogando. Não dar para arrebentar os pontos da ferida, já tenho quem as arrebente para mim. Eu gosto muito de você. Se isso não te basta, se isso não te deixa sem resposta, lamento. Muito. Talvez sofro, até. Decidi tomar outra atitude. Decidi encarar as coisas a só, a seco, sem esperar por você. Já começei, percebeu? Desci o morro, vi o inferno de dentro e ele não me chocou. E agradeci por estar sozinho, tive mais lucidez, pensei com mais lucidez, twittei com mais lucidez e interpretei ofensas alheias com mais lucidez. E não me trai em nenhum momento. Coisas podem ser evitadas, outras acontecem. Há pessoas que evitam e outras que deixam que aconteçam. Eu pertenço ao segundo grupo. Não aponto culpados, nem vítimas, apresento o movimento e me identifico nele. As coisas sempre voltaram ao normal entre a gente? Acho que a gente acaba se perdendo, arrebentando ponto a ponto. As coisas precisam de um fim, mas muitas vezes ele se impõe sem nossas escolhas. Não decreto nada, apenas digo, como numa oração:

- Sinto sua falta! Sinto sua falta! Sinto sua falta!

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