sábado, 28 de março de 2009

Antigooooooooooona.... Já estava na hora


Depois de anos - leia-se dois - de intenso processo e trabalho árduo, finalmente a já antiga Antígona estreou na estreia da Sala Sergipana de Espetáculos ontem no dia internacional do teatro e do circo (27/03/2009). Casa lotada, o fervor reinou numa arquibancada singela. Olhos atentos perseguiam cada nuança, cada movimento dos atores. Os erros fizeram parte da apresentação, mesmo os simplórios que poderiam ser evitados por pessoas sem atenção e dedicação precisa. E a roquidão me acompanhou mais uma vez. E se apoderou de mim como fio de alta tensão mais enroscado que o cinto que aprisiona o Tirésias. Para alguns o efeito foi ainda melhor, mas para mim, foi perder um trabalho construído em cima de muitas dores físicas e espirituais. Talvez a força de conseguir completar a cena tenha sido a única recompensa. E o elogio no fim não se destinava só a mim, mas também ao antigo Tirésias que construiu boa parte do meu atual trabalho. Mas a energia de estreia ainda irradia nestes poros.">J'ai pensé a ton bien et c'est pour ton bien je parle"

quinta-feira, 26 de março de 2009


Encaminho-me para o fim. Enquanto guardo na garganta rouca a expectativa de estreia, engulo a certeza dos dias contados e já proferidos. Ao mesmo tempo guardo no peito o medo de parar, de não prosseguir, de sucumbir enfim! Enquanto mais uma frustração amargo, vendo ricochetear outras aspirações que não me submetem a nada além do asco, da insensatez, do destempero autêntico! Prenunciam as emendas que se que virão... As substituições, as ansiedades. estou próximo. Talvez nesse dia, esteja em volta em trevas, tomando vinho numa taça.

segunda-feira, 23 de março de 2009


Tenho vontade de tomar para mim a saia rodada de toalha de mesa que Flávia desbunda todas as outras meninas, e rodar, rodar, rodar... Até desmaiar de êxtase. Não sei se felicidade são esses dias pintados de xadrez roxo e vermelho, mas calmaria me traz uma letargia angustiante. São os passos na escada não dados... A trança desfeita... O processo não evitado...São angústias que me fazem dormir na rede do corredor. Indecisões que não passam, permeiam. As perguntas que não silenciam numa boca muda. Desejos que não se completam, não são permitidos. Faltas computadas. Fisgadas no joelho, a saia encobriria minhas vergonhas

quinta-feira, 19 de março de 2009


Há meses posto aqui que ando a ler Os Desvalidos, fato que não acontecia. Comecei a lê-lo agora e estou estarrecido: como, tendo nascido tão próximo a mim, esse nobre senhor se manteve oculto de minhas leituras? As páginas em que preguei meus olhos me afiguravam como uma realidade intrínseca. Os lugares pelos quais Coriolano passava, as calçadas não descritas, a vizinhança pouco pronunciada, tudo me parecia tão familiar, tão meu. Independente dos anos que o contexto histórico da obra me afastava: senti-me parte desse processo. Minha memória afetiva reteve-se durante toda leitura a minha infância, com meu pai passando os mesmos privilégios e os mesmos dissabores que o protagonista, as velhas fofoqueiras que se acumulavam no parapeito, os doces que me viciavam, os amigos hoje ocultos. O Dantas me trouxe a lembrança de pessoas que estavam desvalidas dentro de mim, como é importante recuperá-las sempre.
Acho que é uma boa pedida para o meu pai...

sábado, 14 de março de 2009

Ver-te embebeda minha alma
A ausência de toque, paralisa-me
Não canso de implorar o seu-sem-sentido
que me força a verter sangue pelo ralo.
Quando vai atentar-se do pecado
De me deixar aqui: só.
Quantas vezes terei que bater na porta
para pertencer-te novamente?
"Abre essa porta, vai por favor,
Que eu sou seu homem vil"

Minhas lágrimas nunca antes derramadas
agora brotam a cada texto servil teu
Como queria estar nesse pedestal
E roubar a tua literatura.
E sonhar sempre com casas rabiscadas,
com as lembranças que são só minhas.
Com teu corte de cabelo antigo,
com a mesma farda límpida

Teus únicos rabiscos são nos olhos,
Vermelhos como os beijos de outrora
Fruto da erva que ostenta nos bolsos
E que repudia a minha história;.
Emprestarei minha biciclea,
para que pedales até o táxi que almeja
E chupe todas as balas e pirulitos
Que tua nobre inocência renegou.
Enquanto peço:
"Abre essa porta, vai, por favor,
Que eu sou seu homem, viu?"

sexta-feira, 13 de março de 2009

Todas as noites quando a água misturada ao sabão percorre meu corpo, e o resultado beira o ralo, me sinto menstruada. Há tanto vermelho escorrendo no chão que parece que meus pés sangram. E não é uma dor física, apesar do peso na coluna, é uma dor na alma, misturada com a sensação de trabalho feito!

Para ser Tirésias


Èpreciso sujar de vermelho,
a parte interna das coxas,
e espancá-las com afinco
Correr, numa velocidade indomável,
mesmo que te acorrentem pela cintura.
Subir andaime e falar enquanto isso
Ser cão: rastejar!
Contorcer-se!
Diferenciar as falas de um mesmo homem
Incorporar uma entidade
E ainda amedrontar o público

terça-feira, 3 de março de 2009


Tirésias não é meu, isso é fato. Não é simplesmente por não ter sido eu o autor de tamanho feito; falo da atuação em uma montagem em que às vezes parece que caí simplesmente de pára-quedas. Quando o vi pela primeira vez em cena, me pareceu impossível representar aquela mixórdia de crenças e desgraças que me apresentava, definitivamente estava fora das minhas possibilidades, do meu corpo que não sabia – e até hoje vacila - ao se expressar. Com um tempo, destinos se entrecruzaram, a proposta caiu em minhas mãos. Atenção nenhuma dispensei, aos poucos aquilo se tornou apenas uma faísca para conquistar um espaço que também deveria ser meu, espaço que necessitava –necessito, reconheço – Quando dei por mim, aquilo tornara um desafio. Ah, se meu irmão soubesse que pela primeira vez na vida algo me desafiou, e me entreguei a todos os sofrimentos morais e psíquicos que meus nervos não de aços poderiam suportar. Engoli uma vitória em meio a lágrimas que admirei e me ofuscaram. Uma vitória com o sabor amargo de coito interrompido. Depois uma substituição com cara de atestado de incompetência. Um longo caminho que me trouxe de volta a você Tirésias, com seu cheiro que impregna meus cabelos durante a semana inteira, com meu provar-se incompetente. Hoje, pesa em meu pé uma inflamação de um calo feito por ti, e na boca falta um pedaço de um dente que não fere minha vaidade, mas anuncia a perda irremediável e dolorosa de outra perda no mesmo céu. Tuas marcas hoje me preocupam! Tuas dores, latentes em suas trevas me dói agora, e não é apenas uma dor mental, caótica, agora é física! Em um corpo que lembra a minha velha e malfadada infância, que tolamente se protegeu de um mero vilão, que hoje torce para que da boca, dentes e dentes perca. Precisamos, velho Tirésias, resolver as pendências, consertar as mágoas e entrarmos num acordo. Talvez também não me queira, mas me disponho a sê-lo. Se isso não te basta, apenas me poupa! Para amargar um fracasso, vodka barata é insuficiente, mas as dores físicas em meu corpo não cessam, em minha boca me diminui muito. Não dispara as tuas flechas contra o meu coração...

p.s: Licença aos artistas maravilhosos da foto! E a fotógrafa Moema Cos