terça-feira, 24 de maio de 2011



Vem manso,

Abre os braços, ombros altos

ante-braço, punhos, cotovelos.

Milimetricamente

perfeito.

Pés sobre a areia,

Eu sou o grão.

Esorrendo entre os dedos,

sambando nos tornozelos,

panturrilhas, joelhos, coxas-

redondas, roliças, reveladoras -

Para onde se encaminham?

(Mordo o lábio inferior)

De um salto escorrego entre

os mamilos, atravesso as

lombadas, me penduro
na cintura.

(Hora de saltar!)

Respiro profundamente,

olho espessura, diâmetro,

profundidade.

E avanço com as mãos!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre o grupo a tua lona e minha guria


Duas coisas tem tomado o meu tempo e me mostrado que ando envelhecendo e que há sentido em acordar todos os dias, erguer a cabeça, pisar no asfalto. E essas duas coisas são fragéis, pequenas, indefesas. As duas coisas a dar seus primeiros passos, lentos, largando o engatinhar. Duas coisas a titubear quando tentam ser mais rápidos. Essas duas coisas a me provar que dois séculos de existência é muito pouco para ser tanto. Ambas a me condenar e a me conquistar segundo a segundo. A torturar meu sono, a me provocar insônia. As duas condenando a chuva - caso ela caia não há espetáculo, há gripe. Meus amores: Minha sobrinha e o meu grupo de teatro. Meus horrores: a rapidez com que ela cresce e larga os meus braços, a velocidade com que as pessoas se afastam e outras se aproximam esquivas. Essas duas coisas sendo meus e tão dos outros. Ambas a me evitar no momento em que mais preciso, a exigir independência, segurança, disponibilidade. Elas a me dizer que é preciso cautela e a melhor forma de confiarem em mim é eu confiar em mim mesmo. Ambas a reforçar o meu medo da solidão, das noites frias, da miserabilidade. Elas a exigerem que eu seja uma pessoa melhor, leia livros, trate as pessoas com mais sociabilidade, esqueça os parasitas da arte, da família. Esquecer que ela é uma menina que vai crescer, há os rapazes lá fora, os velhos tarados. Esquecer que artista é pseudoprofissionalizado, que não há incentivos, lugares, coletividade. Que crescer no teatro dói como vai doer nela enfrentar o mundo um dia e não haverá sempre aquele canto entre a porta e o sofá onde ela se esconde - como queria me esconder ali às vezes. Eles:o meu grupo,minha guria com pouco mais de um ano,sendo as coisas melhores do meu dia.

terça-feira, 3 de maio de 2011




Ela põe as mãos onde não deve.
Naquele espaço-esgoto
onde te escondo. No sujo
canto onde te guardo,
no frio leito onde gangrena.
Ela mexe nas tuas cascas
- sem luvas, máscara, esparadrapo -
Com unhas, bactérias, calos.
Se por acaso você sangrar?
E a minha pele salvaguardada
E o meu corpo templo-casa
A minha mente putrefata
Se o meu eu se inundar?
E minha vida tão pacata
compadecida, inviolada
com essa ferida guardada,
se ela se rebelar?
Talvez ela torne, retorne, volte
Se assuste com o corte
E perceba ser bem melhor
não te tocar.