quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Tô tirando férias, dando um tempo disso. chega de amar, chega de me doar, Chega de me doer" Caio F

O teu espaço está vazio agora. Tenho o nada e ele não me completa. Apesar de sentir os móveis no lugar, as roupas ordenadas, apesar do chão estar limpo. Eu me sinto incompleto. Esperando um outro objeto de idealização. Não há mais versos, não há mais prosa, as páginas estão todas em branco, a agenda está engavetada. E você está por aí. Eu estou por cá. Cada um para o seu lado, vegetando. Porque eu sei que você também não é completo. E sei que é esse medo de ser um que te assusta e te afasta. Agora quero me conter, me poupar, cuidar desse rosto, desse corpo, desse meu ser Quasímodo que você propagou. Não te quero bem, não te quero mal, não te quero perto, nem longe, apenas não conjugamos. Tô saindo de férias de mim, te vomitando no asfalto para que não sobre mais nada, nem um resto, nenhuma víscera. Estou me curando, mais uma dia sem, só mais um dia... (repito, antes de dormir).

domingo, 10 de julho de 2011

Reclamações da escrita...

Se eu disser que já escrevi o suficiente por hoje estou mentindo. A escrita permanece aqui engasgada. A palavra entalada na garganta, o signo entre os dedos. Quero dizer, quero dizer. Mas só há procuras, só há vazios. Espaços em branco. Não-lugares que você não preenche mais. Que eu não preencho. Você também é literariedade, um signo. Você, idealização da minha escrita pobre, das minhas rimas miseráveis. Fazendo da vida privada uma cópia, uma mimésis mal interpretada, um plágio de mim. A escrita ocupando os sentimentos, a escrita como um fantasma a rondar minha casa, a me torturar. Ela a te engolir em necessidades loucas, a te devorar pela necessidade de te ter como referência. A escrita é pedra, abismo, arma de fogo prestes a vomitar. É cratera, poço onde me afundo, me afundo, vou bem fundo e volto, tal qual a Ângela Rôrô. E quando volto, piro, dou respostas ácidas, termino relacionamentos e retorno a você, musa da minha escrita, persongem da minha farsa. Você que não é você, entende? É apenas um personagem parecido, distante das tuas indecisões, dos teus vazios, dos teus podres pensamentos, dessa necessidade sua de ser o centro. A escrita, é ela quem te pede de volta, ela quem te espera, e te quer mais solícito, menos indiferente. E é ela, a escrita, não eu. É ela quem implora, se ajoelha, reclama. Eu, sou só seu corpo. Submisso à escrita... E a você?

domingo, 3 de julho de 2011

Para o Bauman, para as feridas...


Entro. Bato a porta. Ela permanecerá assim por longo tempo. Sento. Meus braços estendidos sobre o braço deste cômodo, nos pertencendo num longo abraço. Deixo sangrar. Ainda há muito sangue, as feridas estão todas abertas, daqui a pouco me levanto e ponho compressas, mas agora preciso deixar jorrar, preciso deixar correr, porque me dói doloridamente. Quem sabe depois ainda tomo um café, preparo umas torradas, me debulho em lágrimas. Mas agora quero apenas esse abraço seco, esse abraço morto, esse abraço frio. Agora preciso deixar jorrar em silêncio, secar os poros, esvaziar as veias. Preciso de um cigarro, mas o isquiero não está aqui por perto, então deixa estar. Assim, com o filtro entre os dedos eu me distraio. Despejado nessa noite onde apenas os grilos conversam. Eu não sou palavra, nessa noite não sou verso. Quem sabe mais um tanto e eu me levanto, arrumo a casa, reorganizo os móveis, mas agora deixa a pia entupida, deixa o chão enlameado, me deixa assim, sem cheiro algum. Mais tarde talvez eu limpe tudo, coloque as lembranças num saco plástico, inclua nele as fotografias e despeje tudo no lixo. Por agora, deixa estar, tudo assim muito calmo, tudo assim muito quieto, tudo assim bem infantil, enquanto eu me grito de dor. Deixa eu estar assim, lá no fundo, onde ninguém ousou entrar, e deixa todas as portas cerradas, não quero visitas. Meus olhos estão mortos, minha pele está escamosa, eu sei. Daqui uns dias me confundo como os movéis e vegeto. Ou piro numa outra viagem, numa outra ideia, talvez me afogue nessa liquedez, talvez até te deseje bem. Mas agora, deixa estar...