segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Um verso riscado no papel.
- Compulsão de poemas virgens -
Nascendo sem cor, sem forma.
Retorno em torno de ti,
torrentes de tortura
no a-guardo teu.
Talvez voltes a ver o
que antes era certeza:
palavras singelas, alfa,
beta, delta, geometria
displicente, poética pobre
da vida repleta de
versos riscados
Meu versos não tem métrica, amor.
E sim neurose bartheniana, um pouco de desdém
[e dor
Há o corpo que se lança da janela
- E leitor?-
São palavras desconexas, irrefletidas.
Repetidas, sim, a repetição gasta
[da melancolia
Um suave trago no cigarro, unhas
partidas na compulsão, pulso arrebentado
E também, referências:
Bibliografaladas
Meus versos, amor, não são versos.

Tenras tardes

Já te esperei em todos os cantos,
canteiros, cubículos apertados.
Esperei no quarto,
mas não chegou.

Esperei o fato marcado,
a correspondência antiga,
o crime - cabeça espatifada contra
o muro - e retardou.

À espera do recado certo
(ligação rápida no celular
'alô?' 'já vai!")
fico tarde inteiras

Pulei o muro, fiz perguntas
indiscretas, constatei:
A vida corre sem você,
mas não posso correr dela

Um verso bra(n)(d)ocorre solto no parapeito da janela:
Pessoas monótonas caminham

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sobre o amor e o desamor

Outro dia me perguntram com um sorriso nos lábios e a certeza da resposta:
- Você me ama?
Tentei não responder, sorri com deboche. Esforçei-me ao máximo para não deixar a resposta verdadeira exposta na cara como sempre faço. Queria dissimular, mas não deu. O 'amo' somente, me faltou. Se banalizaram o eu te amo, eu continuei sendo fiel a sua significação. E só digo quando vejo que só essas palavras podem exprimir o que sinto. Então, só assim posso repetir, repetir e repetir que amo, amo loucamente e com abundância. Amo com desespero que beira muitas vezes à impaciência, ao absurdo da ignorância. Amo como uma donzela romântica, tal como a Inocência ou a Moreninha. Amo com pieguice.
E quando surge o desamor brutal proposto pela Ilma, sobra apenas a indiferença e a ausência da resposta certa. Dessa forma somos forçados a ouvir mesmo sem crer da mesma boca:
_ Eu sei que ama!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Me doeu.
Mais pela vida
do que pelos versos.
Me doeu a janela aberta,
o vento, a literatura esquecida,
o voo, o chorar dos velhos.
Me doeu Ana Cristina.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ainda a gosto


Eu olho assim as coisas que eram minhas e não são mais. Olho e penso que poderia ser bom - no sentido puro dessa palavra. Podia desapegar, não sentir esse sentimentozinho ruim. Desprender-se. Deixar as amarras se soltarem por si mesmas. Passar a vez, como se passa a bola,o anel. Mas insisto em fingir que tenho punhos, gosto de segurar as coisas entredentes, mesmo quando não há mais o que segurar e só rosno. Crio a fantasia que tenho essa força, que sou mesmo essa pessoa forte, enfrentativa ,que pinto para mim mesmo. E quando há luta ainda, as coisas se tornam dolorosas, insuportáveis. E as feridas irrompem na alma como escavações no asfalto. Chega um estágio que as feridantigas gangrenam, entende? Mesmo assim há pelo que lutar, pelo que querer. Quando não há mais nada, sobra apenas a lembrança que poderia ser esquecida, a lembrança de uma perda, de uma falta, de uma ausência. Sobra apenas a culpa por não ser bom

domingo, 22 de agosto de 2010

Retorno à UFS


Se a madrugada inspira, o dia apavora. Pela manhã os corpos parecem estar prontos para o grande abatimento humano, onde todos são transportados em pequenos cubículos pela estrada afora. Assim, há as vestes matutinas, o sorriso acolhedor que intima, a pressão pela resposta certa, o futuro certo, a vida certa.
Nessa rotina do dia-a-dia as palavras perdem a conotação, a poesia se expira, o vocabulário se extingue. E a linguagem se torna cotidiana. É a poesia monossílábica que vigora, a de palavras rápidas, mínimas, coisas que flutuam sempre na superfície. Superfície onde todos se afogam.
Numa dessas manhãs de agosto, o cara lacaniano me falou da ausência que assola a todos. Da frequente fala que nos permite continuar vivos. Vestido de preto e branco, celular pendurado na cintura e relógio de fivela no pulso, me contou a história da velhinha que quando descobriu ter tudo, morreu. E então, percebi que até essa falta imensa que sinto não me torna protagonista de nada. A lacuna é coletiva, descobri.
Nesse instante, percebi que até a minha agonia, o meu vazio existencial que romanceava, até ele era comum. Comum como todos os desejos, expectativas, planos que poderia ter tido. Foi aí que passei a não crer nem mesmo no vazio que cultuava.