quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O teu nome me é próprio


Se não for para doer, para quê? Para quê amar? Para quê gostar de você se passar a não doer? Se apenas eu passar a amar? Se eu gosto desse desgosto de continuar a te querer mesmo com o passar. do tempo.  E já faz tanto. tempo. Que eu gosto de sofrer, que eu gosto de amar. Há mar. Há muito mar nesse amor que não passa nem pondo o coração na brasa, sangrando. Sangrando, eu sei gostar, sei amar, sei amarrar as ideias, e sei fazer da escrita- resgate. Te amando, eu deixo a pieguice toda para o dia a dia e a única parte que fica é o meu olho em busca do teu olho preto que se desloca agilmente nesse imenso branco que sobra na sua face. Puro labirinto. Perdição. Foi tentando te olhar nos olhos que o Saramango inventou a cegueira leitosa. Foi tentando te olhar nos olhos que os poetas – e os profetas – se inspiraram em desgraças. Teu olho é o olho do furação – minha desgraça, meu desafeto, a eterna solidão. Eu te amo, idiota. Com a incerta certeza que eu preferia não sentir nada. Para quê? Para não sofrer? Para vegetar. Para plantar begônias e ver como elas amam suas congêneres, para me contentar com a punheta diária, com os amores alheios babacas, com os babacas que não entendem esse jogo que é te amar. Um jogo onde eu sempre me fodo no final. O jogo que consiste em te olhar à espera. De que você olhe dentro do meu olho-misericórdia meu olho-cachorro-abandonado meu olho-sem-graça-sem-cor-sem perdição. Meu olho-babaca que sempre te olha e espera a derrota que é o teu olho me olhar.