domingo, 28 de fevereiro de 2010

Adulto tonto

Rabisco um sorriso infantil
E uma voz de menina
E pulo corda, amarelinha
Canto
Faço travessuras, peço um amigo
Sofro uma desilusão
E volto a ser gente grande

Compulsão alimentar

Como acreditar na voz embargada,
no cheiro desagrádavel, nas ideias desconexas?
Como, se nas juras há fantasias
promessas que não cumprira e
outros sonhos: tantos.
Como, caso haja verdade vou sofrer
deveras. E chorar até o amanhecer
Como, Como, como
Se já esqueci as ofensas, se nem
noto as injúrias e amargo os dissabores,
feliz!
Como, porque não sei se volta ou
se parte agora enquanto eu: como!
Para Paula Auday, em momento de ressentimento que já passou
Fiz um balaio de misturas?
pus bala, chocolates, amores e amoras
pus os amigos, desafetos, o velho disco infantil
pus as dores, as feridas, as escolhas equivocadas
pus as roupas, as fantasias, o romance não escrito
pus um soco, uma ofensa e uma desesperada vingança
pus o amor que comeu e as palvras da lembrança
pus memória, liderança e a espontaneidade
pus os medos sem as coragens e os projetos mal-fadados
pus tudo e todos
menos voce!
Ao Chico, com açucar e com afeto
Meu bem,
acorde um pouco mais tarde
E não me veja nesse estado
Deplorável
Eu farei o café e as torradas,
costurarei suas calças
e te beijarei os lábios
Meu bem,
Se acordares não note
o desleixo dos cabelos,
as unhas maltratadas
e a pele desesperada
Meu bem,
Caso notes:
Minta!
Diga palavras bonitas
E ,e beije a face
Que eu esqueço
Do teu preço.
Como acreditar na voz embargada,
no cheiro desagradável, nas ideias desconexas?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carta aberta, após porre

Três anos com você
Três anos sem você
E agora me pergunto aonde tu foi parar
Três anos te amando
Três ano te odiando
E agora não sei se te reconheço mais.
te olho e não vejo a mesma de sempre. teu jeito encantador sumiu. Parece que escorreu pelo ralo, de repente.
O teu rosto transfigurou-se . deveria ter te feito um retrato para que não desfilasse pela rua essa expressão desdenhosa da vida. O teu cabelo que palpita, me agoniza. As tua unhas não permitem que os teus dedos sejam novamente anormais. E qual foi a última vez em que caíste levemente entregue ao chão, acovardada de desespero?
Não planeja mais minhas fugas, não finge que sou importante. Hoje me oferece uma lasanha congelada, jogos no computador, uma série americana. E cala. E eu do seu lado queria te dizer que todas as série americanas são alienantes, que odeio jogos no computador e que há lasanhas melhores. Mas, principalmente, que o teu silêncio nunca foi tão irritante e desesperador.
Vivo pensando em te ligar mas não tenho o teu número, tentei te deixar um recado mas estava ausente, quis bater na tua porta porém tive medo de não ser bem-vindo.
Na verdade, há quanto tempo não nos olhamos nos olhos? Eu já esqueci como é o teu olhar que antes me fazia apaixonado. Ainda existe os mesmo olhos? Quando foi que o encanto se quebrou? Onde eu estava quando você se tornou indiferente a mim? porque não pediu ajuda, implorou que ficasse, que não permitisse a mudança?
Porque sei que eu mudei. Mas bati na sua porta para dizer o quanto mais feio me torno com o passar dos dias. Será que percebeu que perdi aquela velha teimosia,a autoridade arrogante e os ouvidos que compartilhava a todos? Notou que estou ranzinza, velho solitário. Que nenhum objetivo se realiza, que não tenho mais tantos amigos? Que não há flores no meu caminho e que não saio mais abraçando e beijando desconhecidos. É... O que faço é tomar porre inconsequente com gente diferente da sua turminha! Quando bebo com a gente, eles me mostram como o mundo fede!E então eu percebo neles seres humanos inconformados com o vazio existencial e que bebem para curar"a dor do ferro entalado no peito que só cura com vodka". Você sente esse ferro?
Queria te diser que meus dentes amolecem quando estou bêbado, que minha primeira vez foi traumática e que já me chuparam. Te dizer que sinto saudades do futuro, que há uma mancha preta na minha mão direita e que cada dia tenho mais medo de morrer. Que penso em derrfame, suicidio, em roubar um chocolate. Que cantei Acalanto para minha sobrinha e ela dormiu. e Campari não me faz arrotar lustra-movéis. te dizer que troco o dia pela noirte, que choro com vários filmes e me apaixonei pelo Cazuza. E também, que me sinto estranho ao teu lado, desconcertado com teus novos amigos e que no teu mundinho não há espaço para mim, mas isso não me entristece. Que já saí de Aracaju e o céu de Arcoverde é lindo. Que continuo recusando bons convites e folheio o livro do Nelson Rodrigues. Contar que tenho um diário. Que já saí no jornal, emocionei poetiza, mas ainda não tenho reconhecimento. Falar que a família "tá" boa, que o fusca não sai da garagem e não sei substituir os "que´s" nesse texto. Que morro de vontade de te trazer aqui em casa, mas não sei se ainda és humilde o suficiente para vim. E que eu tive vergonha de te ver bêbada sem mim.
Três anos com você
Três anos sem você
E nessa equação
Parece que nunca te conheci.

20 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Aos gias, mil perdões

Já contei essa história diversas vezes e não me canso de contar. A literatura nunca me doeu tanto como nesta vez. Nunca havia recebido um soco no estomâgo, um nó na garganta, um cala boca, como da vez em que li Perdoa-me por me traíres, do Nelson Rodrigues. A minha cama se revolveu em loucura, afastando toda a inércia que existia num adolescente 200 de 16 anos. As palavras do Nelson afastavam a letargia e me pediam pressa, sofreguidão, insensatez. Estava diante das últimas consequências de um amor. um amor que permite absolver uma adúltera, afinal de contas ela "é mais pura pois está salva do desejo que apodrecia nela".
Além de uma feroz crítica a uma sociedade mesquinha que perdura até hoje, uma sociedade corrupta que empurra os jovens à prostituição por reprimir sua sexualidade, mergulhando-os no ócio, o que me inquietava era o silêncio da Judite perante Gilberto. Eu esperava que que ela dissesse algo a ele, ao marido que a amara nas paredes infiltradas. Ele implorava por ter sido culpado por não merecer aquela mulher. Judite era fogo, carne, vermelho. Judite é a maior possibilidade para uma atriz. Judite é deusa de desbancar Ártemis e Afrodite.
O que eu esperava de fato era que a Judite o perdoasse em meio a palavrões, e que tudo terminasse debaixo dos lençois - mas assim não seria Nelson Rodrigues. À Judite foi concedido o veneno. Ao Gilberto o sanatório. Para uns apenas uma história apodrecida de uma família, segundo ato de uma peça estrondosa. Afinal, o terceiro ato havia mais: espancamento, incesto, beijos, tiros. É como se o fim de Gilberto e Judite permanecesse em aberto. O perdão não dado.
Na minha mente juvenil não cabia essa crítica. A obra era polêmica, provocante, perfeita para uma escola secundarista que sucumbia à inércia , a letargia. Era um soco, um cala a boca, um tiro nos estudantes. E foi. Me rendeu convites anos depois, reconhecimentos singelos, o bom-dia proibido na boca de Carla - nossa Judite.
Agora entendo que foi a Judite a mulher sensual que despetalou a rosa. A Judite é força sobrenatural e é dela a letra em reposta escrita pelo Chico buarque. Só esse homem que mapeia a alma feminina como uma verdadeira mulher para ser capaz de perdoar o Gilberto. Só o Chico para entender que "perdoa-me por me traíres" é lírica do começo ao fim. E só podia ser o Chico para me lembrar a nossa montagem de "Perdoa-me por me traíres, com direito apenas a uma apresentação.
Aos gias, mil perdões por terem chorado de rir enquanto eu me debrruçava em lágrimas. mil perdões por te amarem de mais. Perdão por ter erguido a mãe a língua, por ter espancado com ofensas. Perdão por querer vê-los , por contar os atrasos. E hoje, me perdoem por me traírem com a publicidade, a arquitetura, a computação, o direito. Me perdoem por não ter conseguido inquietá-los até hoje com o teatro do Nelson e com a música do CHico.

11/02/2010
Te descubro Flávia
No cd do Cazuza
Me leve as estrelas
e as loucuras

vamos junto, Bin
Me explica o caminho
O que eu quero é cuspir
Fogo em desalinho

E juntos, porra doida
Recitaremos versos
canções, contos de Caio
Músicas de Chico
Fugiremos da inércia
Então, vem comigo?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

(Para Marcelo Souza, com atraso)

Paz
Pedido perdido
Por pessoas pobres

Paz
Parada pungente
para peito pertubado

Paz
Poesia Parada
Póetica para poucos

Paz
Partilha Profunda
por pais pacíficos

Paz
Preciso para
Pôr príncipios, pivetada

Paz
Parte principal
para prosseguir, porra