sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Meus amores: saudade

Saudade é uma criança. Uma menina de cabelos encaracolados e dourados, que veste branco e rosa. Saudade saltita. E adora a areia da praia. Encanta-se com o marulho, e sorri satisfeita para ele. Saudade tem mãos pequeninas e não alcança o Céu. Apenas sorri para ele, (o Céu) moleca.
Às vezes, Saudade atravessa uma rua e pára em alguma esquina. Mas nunca ela corre perigo de vida. Muitas vezes é sufocante e irritante, louca por brincadeiras. Com seu nariz aquilino ela respira os ares mais infectos e acha tudo suave. Saudade possui um paladar de lágrimas e uma visão periférica.
Sente o mundo escapar de suas mãos e quando grita é porque percebe que seus ossos estalam. Alguns a acham vingativa. Outros, apenas vaidosa.
Já rasgou alguns véus e se submeteu a torturas. Manipulou castelos de pedra e abotoou algumas fechaduras. Saudade rói as unhas e odeia fio dental. Ela é companheira de alguns infelizes que a desprezam.
No fundo saudade brinca de ser mulher.


29 de agosto de 2008 - sangue, lágrimas, raiva e chaves perdidas...


Não me reconheço nessas palavras decodificadas, não me vejo nessas situações que pinto para mim mesmo, nem sei se falo o que sinto de verdade ou se simplesmente é aventura. Talvez seja a mesma farsa, a vontade de vestir uma máscara diferente a cada dia, e poupar esse rosto cicatrizado tal qual a Maria Berco, que possuo. Essa incessante vontade de rasgar a garganta com gritos estridentes. Esses nós dado nos dedos, esse não reconhecer as palmas das mãos. Acho que as pessoas que não conhecem a si mesmas têm a mania de olhar a palma da mão, como que a procurar onde está o elo dessa porra toda, onde estão os passos desencaminhados, onde estão? Cadê? E vou engatinhando á procura de uma sensação que não seja mentira, de uma deusa que não tenha sido apenas ilusão, de uma música que não seja apenas batida, de um ator que não seja vaidade, de um diretor que tenha ideologia. Perseguindo, perseguindo, perseguindo. Quando? Quando? Quando vão dar descarga nessa merda toda. Chama a Neusa Sueli para isso. E eu não preciso de nenhum beck, de nenhuma maravilha, de nenhuma fitinha de Oxum, Ogum, Exu... Prefiro receber chicletes do menino que acha que sou “o roqueiro que falta os dentes de vampiro” . Grito: Preciso urgentemente de leitura! Para entender essa zona! Para conseguir fazer uma boa redação. E não queria ser mais um. E queria tanto encontrar alguém com um papo legal, que gostasse da mesma coisa, ou de coisas diferentes, típica menina de trapézio que a do RPG desenhou e eu não vi. Parei na órbita.

domingo, 17 de agosto de 2008

Manifesto (meu) ao teatro

Uma coisa que me fere é o tema teatro. Corta, como feridantiga que não se cicatriza. É meu ponto ânsia de vômito. Minha sina. E o que eu queria simplesmente era fazer teatro , sem que para isso precisasse me passar por Negra Fulô ouvindo as falas da Sinhá. Sinhás sempre a praguejar: "Vá comprar comida, Fulô. Tô com fome!". "Fulô, ô Fulô, limpe esse espaço que isso aqui está uma sujeira." "Ô Fulô, compra meus cosméticos" "Fulô! Vixe Fulô! Não esquece os meus rémedios!"
Eu não queria ser reconhecido por cinco minutos em cena, nem tenho pretensão à vaidade de focos, de luzes e sombras, nem de elogios eloquentes e inefáveis. Quero apenas a consolidação de meu personagem. Que me sejam ofertados personagens. E não, que tenha que esmigálhá-los em disputas ridiculas.
Não quero ser alvo de intrigas, nem quero fazer intrigas por me privarem de ter o direito de falar abertamente, sem medo de errar. E me sentir confiante e preparado. Isento de perfis. Que possa superar ora meu corpo, ora meu tamanho, ora minha voz.
Quero teatro isento de interesses pessoais e financeiros! Utópico isso, não? Mas se o teatro é um sonho assim, meio meu, me deixa então idealizá-lo tal qual o estatuto da Dani, e daí?
Produzir, construir... Construir, desconstruir-construindo-uma-produção.
Que máscaras fossem apenas penduradas na parede e não vivesse coladas em rostos. Diaria-mente.
Abaixa o teatro privado! Para quê privado teatro? Deixemos o teatro se popularizar. Deixemos o teatro ser construído por todos sem hierarquias, meio jeito anarquista de ser. Que as contribuições sejam diferentes mas que equivalam no final. Afinal, eu só quero ensaiar uma peça e outra, e outra, e dormir teatro, acordar teatro, ir á praia para desintoxicar, preparando-me para outra overdose, e pegra texto, e decorar texto, e debater texto, e apresentar texto, e ser texto, meio linguistica-teatralmente-texto.
Murinho do Rio Sergipe, 14 de julho de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

AS primeiras consequências de agosto....

Queria fazer uma confissão: Te odeio! Com toda a força e todo o nojo e asco que possuo. Te quero bem distante, queria matar todo o seu orgulho descabido e suas ironias torpes. Porque você é a única a causar confusão... e nessas confusões, já tirou um sonho e minimizou uma experiência boa, dando o troféu ao mesmo gago que já se pavoneia com seu presente. è uma pena que você não saiba medir as coisas, não saiba pesar os pesos e consultar os oráculos. Era importante sabia? Você me tirou isso, porque envolveu o seu "pessoal", o mesmo que me proibiu tantas vezes de interferir. E sabe? Não deixa aquele poema na minha cara, sei conter minha curiosidade, e prefiro ouvir as coisas sem enigmas. Do mais, vai embora mesmo, cansei dessas pessoas de passagem, de tanta mentira dita apenas a dois. Deu nó! acho que você quer voltar atrás, e no fundo eu que me arrasto para o poço, até porque com tantos maltratos eu ainda continuo tentando entrelaçar a sua mão na minha mão!

domingo, 3 de agosto de 2008

Para atravessar agosto

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções-úteis a todosO mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Eu só queria ser a criança de nosso ventre e não queria mais verter sangue não derramado todos os dias. E esse metro e tanto de altura que não muda, não se pinta de outra cor e não fala de outra coisa que o único foco? esse poder de calar o antes incontestável, o cuspidor de fogo em palavras e em gritos torturadores. aquele que enfrentava a tudo subindo num banco. e quando foi que você mudou? às vezes eu acho que você é uma máscara a cada dia diferente. E sabe? Eu queria que você me entendesse! ou expressasse melhor o que você sente em relação a mim. Que fosse doce como com as criancinhas! afinal eu permaneço sendo a mesma criança que pede para fzer "ricolchete"! e eu... desconheço-te!!!!!!!!!