terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mãos

"As mãos são mais culpadas no amor
Pecam mais, acariciam mais
O seio é passivo
a boca apenas se deixa beijar,
o ventre apenas se abandona.
mas as mãos, não. São rápidas e quentes,
percorrem o corpo"
(senhora dos afogados, Nelson Rodrigues)

Ainda lembro das tuas mãos sobre as minhas mãos, das minhas sobre as suas. Não sei ao certo quais eram as minhas e quais eram as suas. Sei que lembro a textura, o movimento dos dedos, o palpitar da pele. Sei que lembro da demora com que elas se tocaram. Havia medo, receio, o gosto da espera, sei lá. Mas, após o primeiro toque, punho- pelos-articulações trabalharam em conjunto. Parecia afronta, uma bestial novidade, uma necessidade louca de ter. Eram apenas mãos que se encontravam sôfregas, desejando ardentemente as carnes, as veias, o sangue. Mãos friccionadas umas pelas outras, um farfalhar de primeiras ideias, intenções segundas, vontades urgentes. As mãos: Sedentas, possuidoras, canibais. Lascivas mãos que não se largavam e que se comportavam como meninas travessas cruzando as pernas numa avenida qualquer. Mãos indisciplinadas, revoltas. Mãos que juntas procuravam uma explosão qualquer. Mãos que separadas perdem a força. Mãos, cê quer?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Taí...

Eu fiz tudo para não gostar, para fingir que a vida era melhor sem. Nunca gostei dessas amarras do corpo, da mente. Nunca gostei de ser dois. Preferia andar por aí escrevendo poemas para ninguém, recitando versos para mim mesmo. Casei com mortos, com livros empoeirados, com projetos alheios. Quis ser totalmente meu, tipo masturbação completa: só eu e meu corpo: só eu e minha mente: só eu.Inventei amores que apodreciam com a velocidade dos frutos em praças públicas. Os meus amores eram públicos, pura literatura de quinta, sexta categoria. Pretexto para ter de quem falar. O amor, às vezes, parece isso: um pretexto. Para contar aos amigos, anotar na agenda, pensar antes de dormir. Um mero pretexto para um texto.
E hoje, você me invade com tanta calmaria, sem arrabentar as artérias, sem depredar as paredes dessa casa arruinada. Você entra, senta, me beija os lábios e vai embora, numa simplicidade que me cativa. Que me deixa assim, sem pretexto para um texto legal, visceral. Você me deixa sem poesia, desarmado nas minhas defesas, contradizendo as minhas teses sobre "o amor é uma droga que vicia os jovens...." e blá blá blá.
E eu me sinto tão bem nesse desconforto.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sobre o amor ou quase isso...

Porque eu não quero me sabotar no que há de mais humano: o amor. Porque cansei de pisar no acelerador esperando que o outro preferisse pular fora a me aturar por mais alguns dias. E agora, eu só queria que alguém me amasse um pouco de verdade. E não há nenhuma poesia nessas linhas, concordo. Eu não queria escrever nada, minha escrita sempre foi "movida a ódio" e eu não desejo nos contaminar com a minha rabugice. Preferiria deixar as coisas na minha mente, te guardar do meu jeito cá dentro do peito. E esperar que você voltasse em silêncio para mim. Mas a insegurança, o velho medo, a desistência constante, a vontade de contar os detalhes... Todos: os detalhes. Teus olhos em fuga, as mordidas na tua nuca, a tua língua desenhando meus lábios, os meus lábios desenhando os teus lábios. Os nossos cabelos: prisioneiros da nossa sofreguidão, as nossas mãos pecaminosas que se encontravam e desencontravam. Uma orquestra mágica de dois corpos. Não sei se foi a vulnerabilidade, mas eu apostei todas as fichas. Aposto ainda porque quero me livrar dessas coisas que não me compreendem e dessas pessoas que não mais me completam. Queria formar um duo para conversar até as línguas cansarem numa tarde entediante como essa. Queria te ter essa tarde entendiante em que fiquei sem chão, sem perspectiva, sem ar. Sem você


p.s: prometo, aos raros que passam por aqui, nunca mais escrever essas coisas bobocas. Foi um rompante!