sábado, 27 de março de 2010

Pensando em suícidio

O Nelson Rodrigues dizia uma coisa mais ou menos assim: "Um covarde nunca se suicida". Não vou discutir sobre covardia, pulsilanimidade (adoro essa palavra), nem coisas do gênero. O quero é fazer uma confissão. Penso sempre em me matar. Cometer suícidio. Cair do sétimo andar, tomar chumbinho, "esfaquear o mesmo cego e pobre coração. E o que me faz acreditar que um dia cometa é o fato que não vivo dizendo e ameaçando isso por aí. Não. É uma coisa que martela, um ideia fixa que não se concretiza. E não é uma coisa que vem em momentos de desespero, ou de profunda tristeza, me vem assim: de repente. Desde pequeno eu me perguntava:" Como seria se eu enterrasse a faca de pão no meu peito?" "E se soltasse agora e caísse daqui de cima?" "Se eu me atirar na frente desse ônibus vou sofrer?". E nem me sugiram psiquiatras, padres e conversas sãs e amigas. Salvo o psiquiatra - para uma conversa sobre astrologia - eu não preciso de nada disso. Se falo assim naturalmente é porque mão sofro com essa ideia. Acho que todo ser humano deveria ter isso como alternativa. Afinal, não há uma outra vida depois dessa daqui, que apego é esse à Terra? Vamos ser donos do nosso destino e poder pôr um fim para não ver essa merda toda que se acumula nas botas, no colarinho, na língua. Vamos sair da vida como quisermos, como saímos daquela festa chata, da opressão do chefe. Quem disse que viver não é uma opressão. E se só nos esperar o nada. O que é que tem? Vivemos um niilismo tediante. Outra forma será interessante. Mas aos queridos, não se preocupem, não é uma coisa imediata, e se acontecer um dia será tão natural e inesperado que nem vão se lembrar dessa reflexão. Aos inimigo uma ameaça: Não me matem antes

domingo, 14 de março de 2010

Primeiro é o aperto de mão
Depois segura no braço
E pede um abraço
E rouba um beijo
Solicita um cigarro
Toma no seu copo
Usa seu celular
Invade sua privacidade
Te faz de choffer
Aos poucos te põe um alcunha
Com muito cinismo
Repete-a várias vezes
Para que se acostume
Sublinha a ofensa
Compra teu silêncio
Encharcando de abusos
Tua rotina
Te derruba no chão
Recrimina seus parceiros
Desdenha os desconhecidos
E com um sorriso
Diz: sou seu amigo

Azul e Vermelho


"Azul e Vermelho piscando

pode ser sinal de perigo"

Reação


Lado a lado, um no azul outro no vermelho, revelavam-se distintos. Deitados num poço de papel-isopor silenciavam desencontro. O azul entregue ao sono, o vermelho entregue a solidão. O azul lívido, o vermelho desesperado.

Na ânsia de encontrar respostas para as recriminações, o vermelho virava-se de lado e chorava uma única lágrima de um único olho. O azul exasperava desprezo através dos cílios. E a porta a testemunhar à dois metros, com rangidos.

Não houve ruídos que interrompesse o constrangimento. O azul de olhos fechados parecia olhar fixo, como alguém que não vê. Enquanto o outro tateava o silêncio e desejava sôfrego que o sono fosse urgente.

Esperando algum acontecimento, o vermelho se excluía de qualquer tentativa, apenas mapeava profundamente a extensão da plenitude do corpo do Azul. O vermelho rastejava no saco enquanto o desejado permanecia imovél, esquecido no desconforto.

O Azul se rendeu a inconsciência de olhar para o teto, e lentamente perdeu a alma. Seu espírito vagava a dois metros do seu corpo. Instantaneamente, sentiu a mão de dedos alongados e úmidos tocarem sua nuca e pressioná-la contra o corpo. Corpo de outra alma. Corpo do Azul. Reviraram em toque e sucumbiram à beijos inexplicáveis: explodiram em gozo.

Voltando a consciência o vermelho percebeu o Azul ainda imóvel e compreendeu que tudo aconteceu entre os abismo dos centrímetros de dois corpos.

terça-feira, 2 de março de 2010

Nina

(O cenário é composto por um quarto e uma sala. Ambos os espaços composto por pouscos movéis. No quarto, uma cama de solteiro onde vive o inválido Joaquim. Na sala , uma mesa onde ocorre as refeições. Separando o quarto da sala, uma porta. Na sala, uma enorme janela)
NINA (entrando no quarto) - Há vinte anos estou no mundo. Há trâs está prostrado nessa cama. Há seis mamãe morreu. Há três meseso Sebastian não aparece aqui em casa. Na maior parte do tempo somos apenas você e eu. Será que gosta da minha companhia como amo a sua? Se eu pudesse te levaria a um passeio. Faz um calor insuportável lá fora, mas as noites são lindas. Outro dia a Lili me perguntou porque não compro uma cadeira de rodas. Quase a esbofeteei. "Meu pai há de sair com as próprias pernas" foi o que lhe disse. È o que lhe digo, olhando nos seus olhos. "Há de sair com as próprias pernas".