sábado, 25 de dezembro de 2010

Para Núbia Marques, com carinho

Quem chamou quem, afinal?
Eu sei que também estava viajando nessa ideia de meu corpo ser casa com ferrolhos e fechaduras dantescas. Também estava pedindo uma visita urgente, reclamando aos passantes pela degradação. Esse meu corpo-casa cansou de abrigar (des)conhecidos. Hoje ele espera pacientemente o novo. Aquele que estar por vir e traz a fórmula mágica para curar todas as dores da alma. O que vai se tornar igual a tantos com o passar dos dias. Igual por não desbravar os corredores dessa casa, não atingir o alçapão, não desfrutar o desconhecido.
Minha geração também leucemina-se.
Deve ser por isso que expulsei todos os moradores. Sou eu quem abre a garrafa da cerveja e despeja pacientemente no copo, torcendo para que não se forme a espuma. E com esse líquido vou limpando o piso e as paredes intestinais, vou banhando tudo com álcool. Esperando que algo esfregue o vassourão. Eu, sozinho, a tomar a cerveja gelada num dia de sol de dezembro. A casa vazia. Os corrimões sujos, a escada inutilizada. Ninguém no primeiro andar.
E assim durmo, e assim acordo e vou tecendo as imprecisões todas as manhãs. Pura manha de quem dissimula para ninguém. Reparando nas paredes infiltradas, vendo os medos escorrerem até a planta dos meus pés.
Vou seguindo, desabitado. Assobio uma canção que aprendi na infância, finjo que nos braços há alguém que estar para dormir. Mas sou eu que adormeço, com a casa lacrada. Com os passos na calçada, de outrém.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

- Te Quero como quem mendiga

Não mais repito isso.
Ao contrário, te tenho do
outro lado de mim. Despejado
entre os cacos. Entregue ao
canto onde coexistem o pó,
o suor, o desamor.
Escorrestes pelos poros?
Como o suor que me queima
as carnes? Ou deslizastes como
sempre por qualquer lugar?
Não. -É sim mais uma negativa.
Atroz, como todas as verdades.
Não quero tuas respostas.
Me livrei de ti como quem
limpa a sujeira das mãos
nos quadris grávidos.
Te varri como quem limpa a
casa e vende os móveis. Todos.
Os móveis. Agora nesta casa
minha, só eu reino. Um momento
egoísta, só meu. Onde você
não existe . Não reflete mais
nos espelhos, nem aparece atrás da
porta quando a fecho. Onde não
te respiro, não te toco, não te tenho.
- Múltiplico as negativas.-
Uma vã tentativa de preencher
esse espaço. Só meu. Essa casa.
Vazia.

sábado, 18 de dezembro de 2010

V

Queria ter sabido por você. Queria ter estado mais próximo, segurar sua mão em silêncio. Não conseguir pronunciar as palavras por constrangimento, falta de tato, sei lá. Mas queria ter estado.Entre os amigos notificados, com a obrigação sincera de se fazer presente. Por que me doeu quando eu soube. Parecia que tinha sido comigo. Me doeu tão sinceramente, que os meus amigos se tornaram ínfimos. Todos tão pequenos com seus vícios e seus medos .
E pensei em você com força. E cheguei a única conclusão plausível: te amo. Não como amante. Te amo como quem sente mesmo não estando, como quem quer sentir mesmo não podendo. Te amo com a necessidade de estar te escrevendo mesmo sem saber o que dizer. Apenas com a insistência de sentir: te amo

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Trago











Junto a mim,
Entre os meus lábios secos
Como o melhor dos amigos,
A melhor companhia
Entre os secos lábios
Sempre o trago
Aceso.
O trago,
Às vezes entre os dedos,
Sambando entre eles,
Externamente cinza
Intrenamente preto
Excremento.
Um vício
Que arranha a garganta
Palpita a pele
Racha os lábios,
Secos.
O Trago,
Como a fumaça
que puxo para o peito
Te trago,
Entre os labirintos do corpo
Direto para as paredes do crânio.

domingo, 21 de novembro de 2010

Despejo


Eu minto. Não sei se para mim ou para você. Qual de nós se importa com essa mentira? Qual de nós está ligando para os convites, para a minha decência, para esses olhares mortos que se esquivam com o meu novo jeito de ser. Acho que estou mesmo mudando, eu sinto. É algo que acontece no corpo mesmo - coisa de vísceras-músculos-intestino. Estou pondo você para fora de mim. Cumprindo a carta de despejo que te escrevi há meses. Te enxoto sem perceber que já me largou às traças há tempos. Sem notar que minha expulsão já passou da validade há anos. Resta apenas a indiferença - contrário do amor - Não sei. Houve amor? Eu me pergunto. Eu não acredito que amor se transforma ou se finda. Quando isso acontece não houve amor, meu bem. Apenas um rock and rool. Uma mentira como essas todas que eu conto diariamente sem me importar se você acredita. Apenas minto com um instinto de sobrevivência. Eu não vou mais implorar palavras, versos. Você me cansou com onomatopeias. Estou farto de servilismo, de espera, de esperanças não dadas. Farto de egoísmo, de incompreensão. Farto da falta de. Reação. Respostas. Verdades. Autenticidade. Gratidão. Farto de saber da tua farsa, farto de me ver nessa falácia. Farto. por isso estou te dando a última chance de sair sem que eu tenha que jogar as tuas malas pela janela como uma mulher possessa. Não nos casamos, eu sei. A intimidade que pintei só existiu para mim. Você nunca morou nessa casa. Nunca habitou meu interior. Nunca entrou por essa porta que eu deixo escancarada. È por isso que demora tanto a ir embora? Por isso que não lê a maldita carta? Não temos mais nada em comum. Ao teu lado eu vegeto. Prefiro ao que imagino de ti à tua presença. Não nos bastamos. Cadê a minha dignidade? Você me humilha, me menospreza, me faz cantar Com açúcar e com afeto. Vai, vai embora. Pára de se esgueirar na porta, eu preciso fechá-la

sábado, 13 de novembro de 2010

O muro


Tua alma sorri agora com sua nova companhia feliz? A pessoa certa para os teus passeios vazios eos teus pensamento futéis, agora tão próxima a ti. E não pense que acho inutéis as coisas vzias e futéis das quais se debruça constantement. Ao contrário, felicidade superficial nos torna "burro, gordo, alienado e completamente feliz".

Entre vocês não exite esse muro invísivel que nos distancia nossas mentes. O muro que eu não via, mas aos poucos fui percebendo bloco a bloco, quase que descobrindo um a um. Blocos que impediam a perfeita visão que supuha ter.

Quando surgiu o primeiro bloco, eu confesso qu ignorei, um cisco no olho que incomoda, apenas. Mas quando foi que sobrou apenas um para eu perceber esse imenso amotoado de cimento e cal que nos separa? Será que se eu gritasse resolveria? Ou pareceria como sempre esse menininho chorão que reclam da vida?

Quando foi que nos perdemos nessa descrença? Porque por um momento eu acreditei nas tuas e pensei que você acreditava nas minhas. Hoje eu não creio. (há algo mais dilacerante do um ponto final após essa negação)

Não cremos. Como é humilhant conjugar esse verbo. Como é egoísta e vaidoso lamentar essa falta de crença. A crença não é engraçado e ao mesmo tempo trôpego? E tudo que eu fale é paráfrase ou plágio, para ser mais sincero, do Caíto - intimidade fantasiosa - tão massacrado, repetido e invejado por qualquer escritorzinho de merda (tipo eu)

Eu queria apenas te dizer uma dessas últimas coisas dessa lista iterminável que me leva a crer que ainda te dedico muito: -Cá do meu lado do muro, as coisas pequenas importam sim. A integridade física, a repercussão dos fatos, os meus preconceitos e pré-concetos, as idiossincrasias/ideologias minhas, minha verdade! Abro o último parágrafo, o derradeiro para dizer ridicularmente, repetidamente:

Apenas não creio

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sopro versos como quem sofre,
como quem se alimenta mal,
dorme pouco, atravessa
espadas pela garganta.
Como quem se joga da janela
do apartamento, como quem
compra chumbinho e guarda
no armário: teço versos!
Como uma maldição eterna,
como dissabores diários.
Como um resmungo, um grito
um diálogo-monossilábico.
Eu e os versos,
como duas pessoas abandonadas
no meio-fio da avenida principal-
de uma cidade qualquer, tipo essa-
esbofeteando um ao outro
no automático.
Os versos, os versos...
Eles me engolem!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010


Enquanto não te dói a poesia

Escreva mais um verso pungente

Como quem lança uma dose

de vodka na garganta.

Eu não quero construir s`eu lírico

nessa casa assoberbada

de in-verdades.

Desejo apenas glória, luz

e freio na língua

Para que não termine

Acotovelando-se.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quando abro a porta
e adentro o corredor
e olho:
Você esparramada na rede
Sorriso de paz
envolta em sonhos e nuvens
pouco mais de meio metro
a abarcar tantas vidas.
Constato:
-É isso, afinal, o amor!
Suicido-me
a cada palavra
proferida.
Como quem se joga
da janela do
duplex que não tenho
E caio
no insensato inferno:
teu desprezo.
Pego uma caneta vermelha
E risco de sangue o papel
para exortar de mim
Tua presença constante.
E enquanto escorres
lentamente, entre as linhas
Cravo com ódio e sede
O mais impuro desejo
que despertas.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Túmulo:
repouso que terei após de ti
receber ignominioso desprezo
Túmulo:
Cárcere de pedra onde
meus lábios putrefatos
regogizarão.
Túmulo;
Lugar eterno onde
o que resta do meu corpo
prosseguirá te amando

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ei, vamos tomar uma
no bar da esquina?
Eu te conto uma piada
E você me excita com o
tamborilar dos dedos.
E depois voltamos
trôpegos para o meu quarto
Deitamos no chão, mesmo.
Pois a cama é pequena
para caber a nós
e ao nosso segredo
Pensei romper
A carne
Apressadamente
Costurada
do teu peito

Errei o alvo

O que segura
pele a pele,
ponto a ponto
Não arrebenta mais

domingo, 10 de outubro de 2010

Nada poético V


Eu não consigo te escrever, fato! Eu não consigo te dedicar mais nada. Nenhuma palavra íntima, nenhum desabafo, nenhuma estima sem recíproca. Não te vejo mais verdadeiro. Te disseco e encontro erros segundo as regras que imponho. Regras que só eu sigo, mas que para mim são verdades absolutas. Eu sabia que acabaríamos cansando, mas acreditava que eu desistiria primeiro. Sempre fui de trocar as pessoas após uma intimidade profunda, intensa. Mas hoje o teu olhar só me reprova, tuas palavras me machucam e todas as manhãs renovo a promessa de distância que acabo putamente quebrando à tarde. Certas atitudes são definitivas, meu bem. Mudanças na rotina abalam a estrutura de qualquer relacionamento. As coisas postas fora do lugar sejam belas ou àsperas, singelas ou colossais rompem qualquer ligação, qualquer nó, qualquer para sempre. E não me venha com essa história de pôr educadamente os meus erros sobre a mesa, como cartas de baralho. Sempre fui o que reclamas, sempre agi dessa forma. Apenas te amei mais com as suas cartas. Porque não me amou mais com as minhas. Jogue um poquêr comigo! O que não dar é para agir como os outros que não estão jogando. Não dar para arrebentar os pontos da ferida, já tenho quem as arrebente para mim. Eu gosto muito de você. Se isso não te basta, se isso não te deixa sem resposta, lamento. Muito. Talvez sofro, até. Decidi tomar outra atitude. Decidi encarar as coisas a só, a seco, sem esperar por você. Já começei, percebeu? Desci o morro, vi o inferno de dentro e ele não me chocou. E agradeci por estar sozinho, tive mais lucidez, pensei com mais lucidez, twittei com mais lucidez e interpretei ofensas alheias com mais lucidez. E não me trai em nenhum momento. Coisas podem ser evitadas, outras acontecem. Há pessoas que evitam e outras que deixam que aconteçam. Eu pertenço ao segundo grupo. Não aponto culpados, nem vítimas, apresento o movimento e me identifico nele. As coisas sempre voltaram ao normal entre a gente? Acho que a gente acaba se perdendo, arrebentando ponto a ponto. As coisas precisam de um fim, mas muitas vezes ele se impõe sem nossas escolhas. Não decreto nada, apenas digo, como numa oração:

- Sinto sua falta! Sinto sua falta! Sinto sua falta!

sábado, 9 de outubro de 2010


Hoje olhei para dentro de mim e você não estava. Não estava nem mesmo ao meu lado. Quando foi que eu te perdi? Quando foi que houve o rompimento? Porque me pergunto isso se sempre soube que tudo aconteceria em silêncio, como em todos esse anos? A gente gosta de se martirizar, eu sei. A gente gosta de chorar de madrugada ouvindo a Bethânia ou a Tiê. Gostamos de inventar historinhas para fingir que vivemos. Gostamos de sentir ódio. Hoje percebi que nada mais me importa: passado, projetos, putaria. Você unicamente me importa! E quando não te vejo, quando não te conto, as coisas perdem as cores, os sentidos. Eu vegeto, lispectarmente, eu vegeto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Olho para teus cachos
E mergulho,
Confundo-me
Apequeno-me
E quando, então,
Roças neles
a ponta dos teus dedos
Caio - pateticamente
na realidade
Bruto silêncio te cerca
Forte desejo me toma
Cerceamos um ao outro
Entre paredes inimagináveis:

Braços-gêmeos
Mentes distintas
Estilos literários
Inconsequentes

Te olho fundo em cada poro
E te como!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O violoncelista


Ele enlaça o violoncelo

Como quem abarca uma mulher:

Dedilha os cabelos,

detém entre as pernas as ancas,

Fricciona as vértebras.

E em êxtase, lambe

com a ponta dos dedos o umbigo -

elo transcedental dela -

onde a boca dilata-se

em notas musicais.

domingo, 26 de setembro de 2010

Verdadeiramente

Eu te queria. Não sei se na minha cama, nua, com os cachos espalhados no meu travesseiro, com meu braço repousando sobre teus seios. Te queria verdadeiro, verdadeiramente. Com o desejo que me remete ao verbo querer. Com essa frase que insiste em não completar o pensamento, que insiste em não ordenar a desordem. Com muitos dois-pontos. Assim, com repetições, com vocabulário ínfimo, com tanto plágio: Te queria.
Absurdamente, entende? Com ânsia, com fome, com exacerbo. Te queria malucamente. Nos lugares mais estranhos: dentro do meu armário, dentro da minha mente, dentro de mim? Sei que queria com tanta força, com tanto egoísmo. Aos poucos, como uma droga que vai terminando, como o cigarro que vai queimando, te queria.
-Grito. -
Por mais tempo, com muito silêncio - coisa que me incomoda nos outros - Com essa dor que não me dói, mas me fascina. Te queria porque você me furta, me rouba, me cativa ainda? Sim é uma súplica!
Perto, frequentemente, em demasia. Deveras te queria mais próximo. Que me visitasse e me revisitasse. Que me tivesse pelo avesso: com meus medos, com minha parte mais suja, mais podre. Queria não apenas como uma bibliografia, não apenas como uma influência. Te queria na minha rotina, nesses teus trejeitos que me flagro repetindo. Com essa ausência, com essa falta que nunca se completa. Com esses textos que trocamos. Com esse texto que mesmo que chegue ao fim não é capaz de te dizer como te queria.
Te queria.
Simplesmente te queria.
Te queria (,) vê.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Nada poético IV

As coisas mais bonitas que tinha para te dar, ofereci numa mesa qualquer.:Vinhos, cigarros e a sua recorrente inconsciência que me permite ser sincero. A tua recorrente traição que me humilha e me rebaixa mais do que qualquer palavra, mais do que qualquer silênciio. O que quer? Que grite em letras garrafais? Que estampe em todos os jornais que é você que me deixa infeliz? Que é por te ter hipocritamente que sobrevivo? Que tua presença me faz perder a noção do bem e do mal e do absolutismo? - deve ser isso, então, o romantismo!
Porque então aqueles comentários torpes, a insistência, o prazer do meu sofrimento em meio a tanta torpeza, o debruçar-se sobre o infeliz. Qual a necessidade de me fazer espectador? Qual a necessidade de se fazer cobaia disso tudo. Sofro duplamente: por ti e por mim.
Te odeio unicamente: por não ter reservado à confissão o valor que lhe era devido. Por não ter respeitado, por não ter repartido, por tão poucas considerações (sempre acabamos desconsiderando o próximo, porque?)
O radicalismo me afeta e te queria longe, distante, porque capitulamente me respondde que não há ciúmes. És inerte, fraco para assumir que o problema existe. Menino demais para esperar a
ânsia passar. Recorre logo a outros braços, recorre logo a outras necessidades.
Afinal, como faço para que me largue? Para que não exista mais você entranhado em mim? Como faço pra que apenas eu me machuque?
-...
Não respondes. É apenas mistério e sofrimento

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nada poético III

"Eu faço viagens movidas à ódio" Ana C.
Sede demais afoga. Sede demais sufoca. Eu repito para mim mesmo, resmungando, enquanto esmurro a porta. Repito para mim ou para ti? Não sei. Em alguns momentos fica tão díficil delimitar onde termino e onde começas.
Qual é o medo que te consome? Some: o meu: toda a existência sem você! Madrugadas solitárias, abandonos em eventos, a falta da minha na sua poesia. Silêncio, reticências, beijos bêbados, a não-partilha dos fatos.
Eu assumo toda a culpa sem estalos, nem alardes. Sou eu que estou destruindo o inexistente. Sou eu que reparto os detalhes, conto as gotas da sua paciência. Sou eu que pulso pulsilânime. E não tu. Eu a acusar, a apontar com o dedo em riste. Eu que não noto que todas as pessoas são feitas de outras pessoas e te quero apenas no meu território, no meu domínio. (Essa escrita sem poética - fria, crua, vai acabar me fodendo, eu sei). Eu, egoísta como sempre, impregando tudo com o meu pronome possessivo, que faço verbo - sempre no presente do indicativo.
E agora viajo -odiento - que sempre está aí, virtualmente se esquivando. E nessa viagem choro copiosamente, momentos eternos de solidão descompassada. Queria te jogar todas essas traições que invento na sua cara. Ter um dia apenas em que não sejas a vítima e eu o malfeitor. Fazemos um mal enorme um ao outro, percebes? Reconstruo a frase: Te faço um mal enorme, percebe?
Te mando embora e espero o contrário. E quando noto que não está mais, quase que não respiro... de ódio!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ao silêncio

Elas estão em silêncio. Não as ouço mais, elas não me ouvem. Quem de nós sumiu para o outro.?Será que a saudade ecoa na parede vizinha como cá na minha? Leio palavras antigas, homenagens longas. Acho que não sou mais aquele ser venerado em textos longos, em poemas rimados. Eles não me amam mais, contesto. Não sabem meu telefone, não lêem meus escritos, não discutem mais comigo. Vivem vidas das quais não me incluo. Conheceram novas pessoas - mais ou menos interessantes que eu - vão a lugares que não frequento, não cometem as mesmas loucuras que cometo. Eu desconheço suas ânsias, medos, projetos. Não os incluo nas minhas dores, não divido minhas doses, não os convido para cinemas, teatros, momentos de solidão. Estamos indiferentes. Aconteceram tantas coisas entre isso. E só o silêncio parece nos unir agora - coisas não ditas. Quando não há mais palavras, quando não há mais momentos para serem vividos, quando não há mais ideais e planos em comum, sobra apenas a hipocrisia de gostar, a consideração momentânea, a lembrança indigesta. (vou correr para a minha caixa de cartas e lê o passado como se fosse presente). Somos todos autores de tempos que já se foram. Eu queria ter um encontro com cada um desses autores como encontro O Caio, A Hilda, A Ana constantemente. Queria revisitá-los, lê-los, questioná-los. Queria que eles não fossem para mim significante puro, desejaria redescobrir o significado deles. Talvez um dia numa mesa com toalha branca, uma garrafa de vinho -ou fodka - separando nossos rostos. Talvez nesse dia, faríamos a digestão das lembranças, e gostaríamos verdadeiros e novamente um do outro.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nada poético II


Somos dois. Cada um com seu espelho. Eu não me vejo no teu. Você se ver no meu? Sim, é um convite. Venha: demore bastante aqui defronte, percorra todas as letras, soletre as palvras, depois leia devagarzinho as frases - parágrafos - até sentir o texto completo. Agora me responda bruscamente: Se vÊ?- te pergunto isso enquanto te digo poéticamente "A palavra nos desnuda, fato!". Por que eu faço o mesmo processo com o teu espelho. Eu olho lentamente, tento me encontrar nas palvaras, unir as frases, desbravar o intertexto: - Onde estou? Onde estás? - me pergunto. Parece que brinco de Onde está a Dulce Veiga? - Brincamos?- . Ás vezes eu te acho distante, as vezes eu olhoolhoolho e acho que estou olhando o espelho errado. E cada vez que eu olho no seu espelho eu me sinto ainda menor, como se minha face se dissolvesse, como se meu rosto se dissipasse! E nessas horas eu sinto um medo tão triste, um medo recorrente de perder. Ou pior: viajo que isso é uma mentira que contei para mim. Que não há espelhos, que não "havemos". Termine: dê a última olhada e diga que sim, que se encontra no meu espelho. Uma mentira doce que seja. Sabe o que deliro às vezes que olhar teu espelho é perder-se e eu só te encontro quando te olhoolhoolhoolho no olho.

domingo, 5 de setembro de 2010

Nada poético!

Eu queria compartilhar com você uma porção de coisas: o medo, a vergonha, a fraqueza, essa ânsia. Queria que estivesse mais perto. Já sei que estamos distantes e agora a distância física -ao contrário do que imaginava - me dói tanto. E quando eu ouço as tuas ameaças vejo como é igual aos outros, vejo como estou repetindo as histórias, repetindo outros em você. Sei que sou o único culpado e ela já havia me dito que ficaria sozinho mais dia menos dia, não precisava repetir. Eu sei que você vai embora, eu já sinto - premonições que tenho sempre - que está indo. E vou te perdendo cada vez que abro a boca - sina minha. Fico pensando nas coisas que você nunca poderia me acusar e só me vem uma a cabeça: de não te amar com as entranhas. O resto eu sou mesmo, possesso demais, ciumento idem, vóluvel e dramático em excesso. Essa insegurança toda é a certeza de que não vai ser para sempre, que não vamos envelhecer juntos-sós. Eu fico pensando na minha culpa e não posso deixar de ironizar a tua perfeição. Estamos num estágio que nada mais se salva. "We're gonna be sinkin soon", já dizia a Norah Jones. E o que eu queria te falar seriamente é que não está sendo legal mesmo, que eu sofro muito com tudo e está na hora de dar um basta. Mas aí, 'masoquisticamente' eu sei que quando parar eu piro, ficarei muito pior. "Quando você sofre eu não passo bem". Assim como você eu tenho tanta coisa não dita. Assim como eu, você pode falar:
- Pega essas coisas não ditas e enfia no cú. Porque eu vou fazendo outras coisas com elas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Um verso riscado no papel.
- Compulsão de poemas virgens -
Nascendo sem cor, sem forma.
Retorno em torno de ti,
torrentes de tortura
no a-guardo teu.
Talvez voltes a ver o
que antes era certeza:
palavras singelas, alfa,
beta, delta, geometria
displicente, poética pobre
da vida repleta de
versos riscados
Meu versos não tem métrica, amor.
E sim neurose bartheniana, um pouco de desdém
[e dor
Há o corpo que se lança da janela
- E leitor?-
São palavras desconexas, irrefletidas.
Repetidas, sim, a repetição gasta
[da melancolia
Um suave trago no cigarro, unhas
partidas na compulsão, pulso arrebentado
E também, referências:
Bibliografaladas
Meus versos, amor, não são versos.

Tenras tardes

Já te esperei em todos os cantos,
canteiros, cubículos apertados.
Esperei no quarto,
mas não chegou.

Esperei o fato marcado,
a correspondência antiga,
o crime - cabeça espatifada contra
o muro - e retardou.

À espera do recado certo
(ligação rápida no celular
'alô?' 'já vai!")
fico tarde inteiras

Pulei o muro, fiz perguntas
indiscretas, constatei:
A vida corre sem você,
mas não posso correr dela

Um verso bra(n)(d)ocorre solto no parapeito da janela:
Pessoas monótonas caminham

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sobre o amor e o desamor

Outro dia me perguntram com um sorriso nos lábios e a certeza da resposta:
- Você me ama?
Tentei não responder, sorri com deboche. Esforçei-me ao máximo para não deixar a resposta verdadeira exposta na cara como sempre faço. Queria dissimular, mas não deu. O 'amo' somente, me faltou. Se banalizaram o eu te amo, eu continuei sendo fiel a sua significação. E só digo quando vejo que só essas palavras podem exprimir o que sinto. Então, só assim posso repetir, repetir e repetir que amo, amo loucamente e com abundância. Amo com desespero que beira muitas vezes à impaciência, ao absurdo da ignorância. Amo como uma donzela romântica, tal como a Inocência ou a Moreninha. Amo com pieguice.
E quando surge o desamor brutal proposto pela Ilma, sobra apenas a indiferença e a ausência da resposta certa. Dessa forma somos forçados a ouvir mesmo sem crer da mesma boca:
_ Eu sei que ama!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Me doeu.
Mais pela vida
do que pelos versos.
Me doeu a janela aberta,
o vento, a literatura esquecida,
o voo, o chorar dos velhos.
Me doeu Ana Cristina.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ainda a gosto


Eu olho assim as coisas que eram minhas e não são mais. Olho e penso que poderia ser bom - no sentido puro dessa palavra. Podia desapegar, não sentir esse sentimentozinho ruim. Desprender-se. Deixar as amarras se soltarem por si mesmas. Passar a vez, como se passa a bola,o anel. Mas insisto em fingir que tenho punhos, gosto de segurar as coisas entredentes, mesmo quando não há mais o que segurar e só rosno. Crio a fantasia que tenho essa força, que sou mesmo essa pessoa forte, enfrentativa ,que pinto para mim mesmo. E quando há luta ainda, as coisas se tornam dolorosas, insuportáveis. E as feridas irrompem na alma como escavações no asfalto. Chega um estágio que as feridantigas gangrenam, entende? Mesmo assim há pelo que lutar, pelo que querer. Quando não há mais nada, sobra apenas a lembrança que poderia ser esquecida, a lembrança de uma perda, de uma falta, de uma ausência. Sobra apenas a culpa por não ser bom

domingo, 22 de agosto de 2010

Retorno à UFS


Se a madrugada inspira, o dia apavora. Pela manhã os corpos parecem estar prontos para o grande abatimento humano, onde todos são transportados em pequenos cubículos pela estrada afora. Assim, há as vestes matutinas, o sorriso acolhedor que intima, a pressão pela resposta certa, o futuro certo, a vida certa.
Nessa rotina do dia-a-dia as palavras perdem a conotação, a poesia se expira, o vocabulário se extingue. E a linguagem se torna cotidiana. É a poesia monossílábica que vigora, a de palavras rápidas, mínimas, coisas que flutuam sempre na superfície. Superfície onde todos se afogam.
Numa dessas manhãs de agosto, o cara lacaniano me falou da ausência que assola a todos. Da frequente fala que nos permite continuar vivos. Vestido de preto e branco, celular pendurado na cintura e relógio de fivela no pulso, me contou a história da velhinha que quando descobriu ter tudo, morreu. E então, percebi que até essa falta imensa que sinto não me torna protagonista de nada. A lacuna é coletiva, descobri.
Nesse instante, percebi que até a minha agonia, o meu vazio existencial que romanceava, até ele era comum. Comum como todos os desejos, expectativas, planos que poderia ter tido. Foi aí que passei a não crer nem mesmo no vazio que cultuava.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Casamento...


algumas vezes não é preciso casar para se ter uma relação de cônjuge. Há casos em que o tempo cumpre o papel de juiz, padre ou qualquer um que finja unir duas pessoas . Quando não há aquele que oficializa, a relação se dá espontânea. O compromisso e suas conotações de amarra, prisão, entrelaçameto ficam no intertexto. Os envolvidos tratam de dar esse significado aos poucos.
Mas da mesma forma, a separação (divóricio) fica implicito. nenhum dos dois pronunciam o fim , porque simplesmente não há com o que acabar. Em alguns casos a distância se estende à amplitude do corpo, à amplitude do físico. As ligações se interrompem, cessam os recados, os encontros desaparecem.
Já em outros casos, o processo se dá mais doloroso, o 'casal' inconsciente ou conscientemente se distanciam mas os corpos se esforçam por manterem unidos. Cumpre-se a agenda, cumprem-se os encontros e tudo tem o caráter de obrigação.
E talvez o que sobre entre tanto desencontro, uma floriznha amaragugrada a escrever poemas brilhantes

sexta-feira, 25 de junho de 2010


Entre tuas pernas
Ideias minhas
Ventania
Que não cessa

Entre pernas tuas
Idiossincrassias
Orgias
Que não prestam

Pernas tuas entre
As minhas
Partes íntimas
Que se quedam

sábado, 19 de junho de 2010

deprimindo o deprimente

é o que todos gritam por aí. que gritam nos meus ouvidos com vozes simples, comuns. Como conselhos de amigos. Deprimindo, deprimente. Ás vezes chego a pensar que seja um pedido. Deve existir alguém para se deprime por toda a gente. alguém que lembre que não chegaremos a lugar nenhum com cigarros com gosto de charutos cubanos, e iogurtes recheados de vodka barata. è preciso nomear o chato, o cara mais antipático da festa, que passa horas e horas refletindo sobre as ações dos outros nas festas. Essa pessoa tem que ser tão comum, e simples para ver que não passamos de toscas representações da juventude 00 que vivemos. serei eu este cara, todas as noites

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mais uma carta... Decepções teatrais


Lembro agora da ânsia que senti para te conhecer a alguns anos. De como te segui para ver teu rosto. Da pressa que tinha em materializar a pessoa que um antigo amigo meu tanto amara. É como se não te conhecesse ainda. O Brecht sempre esteve certo "Não éramos amigos, apenas compartilhamos o mesmo espaço". E eu tentava acreditar que o espaço que dividiamos era outro - abstrato - mas outro. Percebo que o único espaço que dividimos realmente foi físico, de parede caiadas, ideologias desconexas e repleto de goteiras. É triste saber que dividimos apenas escravidão, esperanças ultrajadas, sonhos corrompidos. É triste mesmo notar que não construímos nada para chamar de nosso. Para eu chamar de meu. Para você chamar de teu. Uma forma de assumirmos nosso egoísmo. Mas hoje, quando você descia a escada rolante enquanto eu subia, no momento em que ficamos lado a lado, senti uma distância quilometrica. Talvez foi essa distância que me permitiu ficar em silêncio. Ou quem sabe foi o receio de novamente não ser correspondido. Mas sabia que tinha me visto, e vi até mesmo o que passou pela tua cabeça na hora. Mas o que me impressionou não foi a frase que imaginou. E sim esse vazio repleto de rancores. Essa distência! O mais irônico foi que tive a mesma experiência. estava eu sentado numa poltrona de uma Secretária qualquer, quando surge o nosso Carrasco. Ele me cumprimentou cordialmente e sentou-se no mesmo corredor, mas no último banco e do lado oposto. E o longo corredor tornou-se ainda mais extenso. E me doeu tanto, assim como me doeu hoje. E parece que sempre vai doer. Não que eu ame vocÊs. Não. Apenas acho que somos parecidos demais, talentosos demais, egoistas demais, orgulhosos demais, inseguros demais, convictos demais para continuarmos juntos. acho que o nosso grande erro foi não entender que nunca fomos amigos, nem nunca seremos, pois nos amamos em demasia para isso. É esse o nosso engano, foi esse o engano dele. E afundamos no mesmo erro. E não foi só isso que repetimos. também estamos inativos, preguiçosos, tristes. também estamos criando esperanças em outras cabeças. também estamos deixando de enriquecer. Parasitamos a nossa arte por medo da potencialidade do outro. E a única coisa que queria era uma resposta:Onde vocês estão escorrendo essa potência? a minha, está aqui. Nessas frases, escorrendo como num ralo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

você pra mim
è como coisa rara
Música sacra
Tom Jobim

terça-feira, 20 de abril de 2010

Eu quero ir embora


Essa frase da Glorinha martela na minha mente há anos e hoje percebo a necessidade que está entranhada em mim. Preciso ir embora: daqui. Desse mundinho apertado que representam essas paredes que me aprisionam há anos. Sair por aí e ser dono do meu nariz e quebrá-lo em qualquer esquina vulgar. E definir os outros que existem em mim, sem medo. Porque eu cansei de ser mal interpretado, de ser julgado e de julgar. Cansei de imposições, de horários, de medidas, de pensamento perfeitos. De parentes perfeitos. Eu não aturo mais ter que mentir por respeito. Expressar minha opinião e ser um criminoso, ameaçado de um julgamento que sei que sou puramente culpado. Mas alguém já parou para pensar quem vai julgar em prol de mim? Qual estatuto representa os "malandros" "os vagabundos" "os que saem e não dizem aonde vai" "os que fazem sabem lá o quê?". Que estatuto vai dizer que tenho direito a palavra, que posso responder à ofensa que vem de antes. Que estatuto vai curar as mágoas, as trocas, os traumas? Que estatuto vai me obrigar a ser perfeito com um alguém imperfeito assim para mim? Porque tenho que idealizar e corrigir os erros de alguém por puro sangue que corre nas veias? Se é nessa hora em que todos silenciam que os amo mais. E questiono aqui porque o sentimento sanguíneo é genético? Qualquer sentimento tem que ser construído, tem que ser conquistado.

Épor essa e por tantas outras quero partir, para bem longe. Mas enquanto não chega o momento vou contando as moedas no bolso e esperando a sorte me levar para outro lugar.

domingo, 11 de abril de 2010

Blogueiro refletindo........

sábado, 27 de março de 2010

Pensando em suícidio

O Nelson Rodrigues dizia uma coisa mais ou menos assim: "Um covarde nunca se suicida". Não vou discutir sobre covardia, pulsilanimidade (adoro essa palavra), nem coisas do gênero. O quero é fazer uma confissão. Penso sempre em me matar. Cometer suícidio. Cair do sétimo andar, tomar chumbinho, "esfaquear o mesmo cego e pobre coração. E o que me faz acreditar que um dia cometa é o fato que não vivo dizendo e ameaçando isso por aí. Não. É uma coisa que martela, um ideia fixa que não se concretiza. E não é uma coisa que vem em momentos de desespero, ou de profunda tristeza, me vem assim: de repente. Desde pequeno eu me perguntava:" Como seria se eu enterrasse a faca de pão no meu peito?" "E se soltasse agora e caísse daqui de cima?" "Se eu me atirar na frente desse ônibus vou sofrer?". E nem me sugiram psiquiatras, padres e conversas sãs e amigas. Salvo o psiquiatra - para uma conversa sobre astrologia - eu não preciso de nada disso. Se falo assim naturalmente é porque mão sofro com essa ideia. Acho que todo ser humano deveria ter isso como alternativa. Afinal, não há uma outra vida depois dessa daqui, que apego é esse à Terra? Vamos ser donos do nosso destino e poder pôr um fim para não ver essa merda toda que se acumula nas botas, no colarinho, na língua. Vamos sair da vida como quisermos, como saímos daquela festa chata, da opressão do chefe. Quem disse que viver não é uma opressão. E se só nos esperar o nada. O que é que tem? Vivemos um niilismo tediante. Outra forma será interessante. Mas aos queridos, não se preocupem, não é uma coisa imediata, e se acontecer um dia será tão natural e inesperado que nem vão se lembrar dessa reflexão. Aos inimigo uma ameaça: Não me matem antes

domingo, 14 de março de 2010

Primeiro é o aperto de mão
Depois segura no braço
E pede um abraço
E rouba um beijo
Solicita um cigarro
Toma no seu copo
Usa seu celular
Invade sua privacidade
Te faz de choffer
Aos poucos te põe um alcunha
Com muito cinismo
Repete-a várias vezes
Para que se acostume
Sublinha a ofensa
Compra teu silêncio
Encharcando de abusos
Tua rotina
Te derruba no chão
Recrimina seus parceiros
Desdenha os desconhecidos
E com um sorriso
Diz: sou seu amigo

Azul e Vermelho


"Azul e Vermelho piscando

pode ser sinal de perigo"

Reação


Lado a lado, um no azul outro no vermelho, revelavam-se distintos. Deitados num poço de papel-isopor silenciavam desencontro. O azul entregue ao sono, o vermelho entregue a solidão. O azul lívido, o vermelho desesperado.

Na ânsia de encontrar respostas para as recriminações, o vermelho virava-se de lado e chorava uma única lágrima de um único olho. O azul exasperava desprezo através dos cílios. E a porta a testemunhar à dois metros, com rangidos.

Não houve ruídos que interrompesse o constrangimento. O azul de olhos fechados parecia olhar fixo, como alguém que não vê. Enquanto o outro tateava o silêncio e desejava sôfrego que o sono fosse urgente.

Esperando algum acontecimento, o vermelho se excluía de qualquer tentativa, apenas mapeava profundamente a extensão da plenitude do corpo do Azul. O vermelho rastejava no saco enquanto o desejado permanecia imovél, esquecido no desconforto.

O Azul se rendeu a inconsciência de olhar para o teto, e lentamente perdeu a alma. Seu espírito vagava a dois metros do seu corpo. Instantaneamente, sentiu a mão de dedos alongados e úmidos tocarem sua nuca e pressioná-la contra o corpo. Corpo de outra alma. Corpo do Azul. Reviraram em toque e sucumbiram à beijos inexplicáveis: explodiram em gozo.

Voltando a consciência o vermelho percebeu o Azul ainda imóvel e compreendeu que tudo aconteceu entre os abismo dos centrímetros de dois corpos.

terça-feira, 2 de março de 2010

Nina

(O cenário é composto por um quarto e uma sala. Ambos os espaços composto por pouscos movéis. No quarto, uma cama de solteiro onde vive o inválido Joaquim. Na sala , uma mesa onde ocorre as refeições. Separando o quarto da sala, uma porta. Na sala, uma enorme janela)
NINA (entrando no quarto) - Há vinte anos estou no mundo. Há trâs está prostrado nessa cama. Há seis mamãe morreu. Há três meseso Sebastian não aparece aqui em casa. Na maior parte do tempo somos apenas você e eu. Será que gosta da minha companhia como amo a sua? Se eu pudesse te levaria a um passeio. Faz um calor insuportável lá fora, mas as noites são lindas. Outro dia a Lili me perguntou porque não compro uma cadeira de rodas. Quase a esbofeteei. "Meu pai há de sair com as próprias pernas" foi o que lhe disse. È o que lhe digo, olhando nos seus olhos. "Há de sair com as próprias pernas".

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Adulto tonto

Rabisco um sorriso infantil
E uma voz de menina
E pulo corda, amarelinha
Canto
Faço travessuras, peço um amigo
Sofro uma desilusão
E volto a ser gente grande

Compulsão alimentar

Como acreditar na voz embargada,
no cheiro desagrádavel, nas ideias desconexas?
Como, se nas juras há fantasias
promessas que não cumprira e
outros sonhos: tantos.
Como, caso haja verdade vou sofrer
deveras. E chorar até o amanhecer
Como, Como, como
Se já esqueci as ofensas, se nem
noto as injúrias e amargo os dissabores,
feliz!
Como, porque não sei se volta ou
se parte agora enquanto eu: como!
Para Paula Auday, em momento de ressentimento que já passou
Fiz um balaio de misturas?
pus bala, chocolates, amores e amoras
pus os amigos, desafetos, o velho disco infantil
pus as dores, as feridas, as escolhas equivocadas
pus as roupas, as fantasias, o romance não escrito
pus um soco, uma ofensa e uma desesperada vingança
pus o amor que comeu e as palvras da lembrança
pus memória, liderança e a espontaneidade
pus os medos sem as coragens e os projetos mal-fadados
pus tudo e todos
menos voce!
Ao Chico, com açucar e com afeto
Meu bem,
acorde um pouco mais tarde
E não me veja nesse estado
Deplorável
Eu farei o café e as torradas,
costurarei suas calças
e te beijarei os lábios
Meu bem,
Se acordares não note
o desleixo dos cabelos,
as unhas maltratadas
e a pele desesperada
Meu bem,
Caso notes:
Minta!
Diga palavras bonitas
E ,e beije a face
Que eu esqueço
Do teu preço.
Como acreditar na voz embargada,
no cheiro desagradável, nas ideias desconexas?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carta aberta, após porre

Três anos com você
Três anos sem você
E agora me pergunto aonde tu foi parar
Três anos te amando
Três ano te odiando
E agora não sei se te reconheço mais.
te olho e não vejo a mesma de sempre. teu jeito encantador sumiu. Parece que escorreu pelo ralo, de repente.
O teu rosto transfigurou-se . deveria ter te feito um retrato para que não desfilasse pela rua essa expressão desdenhosa da vida. O teu cabelo que palpita, me agoniza. As tua unhas não permitem que os teus dedos sejam novamente anormais. E qual foi a última vez em que caíste levemente entregue ao chão, acovardada de desespero?
Não planeja mais minhas fugas, não finge que sou importante. Hoje me oferece uma lasanha congelada, jogos no computador, uma série americana. E cala. E eu do seu lado queria te dizer que todas as série americanas são alienantes, que odeio jogos no computador e que há lasanhas melhores. Mas, principalmente, que o teu silêncio nunca foi tão irritante e desesperador.
Vivo pensando em te ligar mas não tenho o teu número, tentei te deixar um recado mas estava ausente, quis bater na tua porta porém tive medo de não ser bem-vindo.
Na verdade, há quanto tempo não nos olhamos nos olhos? Eu já esqueci como é o teu olhar que antes me fazia apaixonado. Ainda existe os mesmo olhos? Quando foi que o encanto se quebrou? Onde eu estava quando você se tornou indiferente a mim? porque não pediu ajuda, implorou que ficasse, que não permitisse a mudança?
Porque sei que eu mudei. Mas bati na sua porta para dizer o quanto mais feio me torno com o passar dos dias. Será que percebeu que perdi aquela velha teimosia,a autoridade arrogante e os ouvidos que compartilhava a todos? Notou que estou ranzinza, velho solitário. Que nenhum objetivo se realiza, que não tenho mais tantos amigos? Que não há flores no meu caminho e que não saio mais abraçando e beijando desconhecidos. É... O que faço é tomar porre inconsequente com gente diferente da sua turminha! Quando bebo com a gente, eles me mostram como o mundo fede!E então eu percebo neles seres humanos inconformados com o vazio existencial e que bebem para curar"a dor do ferro entalado no peito que só cura com vodka". Você sente esse ferro?
Queria te diser que meus dentes amolecem quando estou bêbado, que minha primeira vez foi traumática e que já me chuparam. Te dizer que sinto saudades do futuro, que há uma mancha preta na minha mão direita e que cada dia tenho mais medo de morrer. Que penso em derrfame, suicidio, em roubar um chocolate. Que cantei Acalanto para minha sobrinha e ela dormiu. e Campari não me faz arrotar lustra-movéis. te dizer que troco o dia pela noirte, que choro com vários filmes e me apaixonei pelo Cazuza. E também, que me sinto estranho ao teu lado, desconcertado com teus novos amigos e que no teu mundinho não há espaço para mim, mas isso não me entristece. Que já saí de Aracaju e o céu de Arcoverde é lindo. Que continuo recusando bons convites e folheio o livro do Nelson Rodrigues. Contar que tenho um diário. Que já saí no jornal, emocionei poetiza, mas ainda não tenho reconhecimento. Falar que a família "tá" boa, que o fusca não sai da garagem e não sei substituir os "que´s" nesse texto. Que morro de vontade de te trazer aqui em casa, mas não sei se ainda és humilde o suficiente para vim. E que eu tive vergonha de te ver bêbada sem mim.
Três anos com você
Três anos sem você
E nessa equação
Parece que nunca te conheci.

20 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Aos gias, mil perdões

Já contei essa história diversas vezes e não me canso de contar. A literatura nunca me doeu tanto como nesta vez. Nunca havia recebido um soco no estomâgo, um nó na garganta, um cala boca, como da vez em que li Perdoa-me por me traíres, do Nelson Rodrigues. A minha cama se revolveu em loucura, afastando toda a inércia que existia num adolescente 200 de 16 anos. As palavras do Nelson afastavam a letargia e me pediam pressa, sofreguidão, insensatez. Estava diante das últimas consequências de um amor. um amor que permite absolver uma adúltera, afinal de contas ela "é mais pura pois está salva do desejo que apodrecia nela".
Além de uma feroz crítica a uma sociedade mesquinha que perdura até hoje, uma sociedade corrupta que empurra os jovens à prostituição por reprimir sua sexualidade, mergulhando-os no ócio, o que me inquietava era o silêncio da Judite perante Gilberto. Eu esperava que que ela dissesse algo a ele, ao marido que a amara nas paredes infiltradas. Ele implorava por ter sido culpado por não merecer aquela mulher. Judite era fogo, carne, vermelho. Judite é a maior possibilidade para uma atriz. Judite é deusa de desbancar Ártemis e Afrodite.
O que eu esperava de fato era que a Judite o perdoasse em meio a palavrões, e que tudo terminasse debaixo dos lençois - mas assim não seria Nelson Rodrigues. À Judite foi concedido o veneno. Ao Gilberto o sanatório. Para uns apenas uma história apodrecida de uma família, segundo ato de uma peça estrondosa. Afinal, o terceiro ato havia mais: espancamento, incesto, beijos, tiros. É como se o fim de Gilberto e Judite permanecesse em aberto. O perdão não dado.
Na minha mente juvenil não cabia essa crítica. A obra era polêmica, provocante, perfeita para uma escola secundarista que sucumbia à inércia , a letargia. Era um soco, um cala a boca, um tiro nos estudantes. E foi. Me rendeu convites anos depois, reconhecimentos singelos, o bom-dia proibido na boca de Carla - nossa Judite.
Agora entendo que foi a Judite a mulher sensual que despetalou a rosa. A Judite é força sobrenatural e é dela a letra em reposta escrita pelo Chico buarque. Só esse homem que mapeia a alma feminina como uma verdadeira mulher para ser capaz de perdoar o Gilberto. Só o Chico para entender que "perdoa-me por me traíres" é lírica do começo ao fim. E só podia ser o Chico para me lembrar a nossa montagem de "Perdoa-me por me traíres, com direito apenas a uma apresentação.
Aos gias, mil perdões por terem chorado de rir enquanto eu me debrruçava em lágrimas. mil perdões por te amarem de mais. Perdão por ter erguido a mãe a língua, por ter espancado com ofensas. Perdão por querer vê-los , por contar os atrasos. E hoje, me perdoem por me traírem com a publicidade, a arquitetura, a computação, o direito. Me perdoem por não ter conseguido inquietá-los até hoje com o teatro do Nelson e com a música do CHico.

11/02/2010
Te descubro Flávia
No cd do Cazuza
Me leve as estrelas
e as loucuras

vamos junto, Bin
Me explica o caminho
O que eu quero é cuspir
Fogo em desalinho

E juntos, porra doida
Recitaremos versos
canções, contos de Caio
Músicas de Chico
Fugiremos da inércia
Então, vem comigo?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

(Para Marcelo Souza, com atraso)

Paz
Pedido perdido
Por pessoas pobres

Paz
Parada pungente
para peito pertubado

Paz
Poesia Parada
Póetica para poucos

Paz
Partilha Profunda
por pais pacíficos

Paz
Preciso para
Pôr príncipios, pivetada

Paz
Parte principal
para prosseguir, porra

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Eu queria a Patrícia e a Diane
Declamando Ilma
Um Veloso Polyane
Cheio de Fontes

Adoraria o Ivilmar
Invadindo praças
Ruas, estradas
De mãos dadas com a Rosana

Ver a Gigi e o Eduardo
No cordel e no repente
Rimando sextilhas
E transcendendo mentes

Queria o Monteiro e o Venâncio
Debatendo Brecht, Stanislavski
Falando sobre Artaud
Montando Rodrigues

Desejaria a Tânia
sem Soares, com MAria
Cantando ao meio-dia
Um poema cifrado

E o Feolli
Unindo Jacyara e paula
Para nascer uma atriz:
Mayara

A galera reunida
Numa roda colorida
Num sarau improvisado
Num antigo funeral

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Eu vi tuas fotos.
Para onde foram as pessoas?
Onde estão os passante?
Todos de passagem.

Eu vi teus retratos
E senti uma saudade
Salgada.
Dos tempos em que brigávamos

Eu vi os teus recados
E pirei
Com tanta homenagem
Ao vácuo

Também vi nossa foto
Interrogações
Exclamações
Inverdades.

E entendi que sempre
Certos estivemos
pois somos melhores,
Distantes

Eu de tu
tu de eu
''Um ao outro...

Não eramos amigos
Mas compartilhamos o mesmo espaço"* Bertold Brecht