domingo, 3 de julho de 2011

Para o Bauman, para as feridas...


Entro. Bato a porta. Ela permanecerá assim por longo tempo. Sento. Meus braços estendidos sobre o braço deste cômodo, nos pertencendo num longo abraço. Deixo sangrar. Ainda há muito sangue, as feridas estão todas abertas, daqui a pouco me levanto e ponho compressas, mas agora preciso deixar jorrar, preciso deixar correr, porque me dói doloridamente. Quem sabe depois ainda tomo um café, preparo umas torradas, me debulho em lágrimas. Mas agora quero apenas esse abraço seco, esse abraço morto, esse abraço frio. Agora preciso deixar jorrar em silêncio, secar os poros, esvaziar as veias. Preciso de um cigarro, mas o isquiero não está aqui por perto, então deixa estar. Assim, com o filtro entre os dedos eu me distraio. Despejado nessa noite onde apenas os grilos conversam. Eu não sou palavra, nessa noite não sou verso. Quem sabe mais um tanto e eu me levanto, arrumo a casa, reorganizo os móveis, mas agora deixa a pia entupida, deixa o chão enlameado, me deixa assim, sem cheiro algum. Mais tarde talvez eu limpe tudo, coloque as lembranças num saco plástico, inclua nele as fotografias e despeje tudo no lixo. Por agora, deixa estar, tudo assim muito calmo, tudo assim muito quieto, tudo assim bem infantil, enquanto eu me grito de dor. Deixa eu estar assim, lá no fundo, onde ninguém ousou entrar, e deixa todas as portas cerradas, não quero visitas. Meus olhos estão mortos, minha pele está escamosa, eu sei. Daqui uns dias me confundo como os movéis e vegeto. Ou piro numa outra viagem, numa outra ideia, talvez me afogue nessa liquedez, talvez até te deseje bem. Mas agora, deixa estar...

Um comentário:

Manuh das Oliveiras disse...

"Nesta estrada você está na contramão
E a solidão, deixa estar"