
Tirésias não é meu, isso é fato. Não é simplesmente por não ter sido eu o autor de tamanho feito; falo da atuação em uma montagem em que às vezes parece que caí simplesmente de pára-quedas. Quando o vi pela primeira vez em cena, me pareceu impossível representar aquela mixórdia de crenças e desgraças que me apresentava, definitivamente estava fora das minhas possibilidades, do meu corpo que não sabia – e até hoje vacila - ao se expressar. Com um tempo, destinos se entrecruzaram, a proposta caiu em minhas mãos. Atenção nenhuma dispensei, aos poucos aquilo se tornou apenas uma faísca para conquistar um espaço que também deveria ser meu, espaço que necessitava –necessito, reconheço – Quando dei por mim, aquilo tornara um desafio. Ah, se meu irmão soubesse que pela primeira vez na vida algo me desafiou, e me entreguei a todos os sofrimentos morais e psíquicos que meus nervos não de aços poderiam suportar. Engoli uma vitória em meio a lágrimas que admirei e me ofuscaram. Uma vitória com o sabor amargo de coito interrompido. Depois uma substituição com cara de atestado de incompetência. Um longo caminho que me trouxe de volta a você Tirésias, com seu cheiro que impregna meus cabelos durante a semana inteira, com meu provar-se incompetente. Hoje, pesa em meu pé uma inflamação de um calo feito por ti, e na boca falta um pedaço de um dente que não fere minha vaidade, mas anuncia a perda irremediável e dolorosa de outra perda no mesmo céu. Tuas marcas hoje me preocupam! Tuas dores, latentes em suas trevas me dói agora, e não é apenas uma dor mental, caótica, agora é física! Em um corpo que lembra a minha velha e malfadada infância, que tolamente se protegeu de um mero vilão, que hoje torce para que da boca, dentes e dentes perca. Precisamos, velho Tirésias, resolver as pendências, consertar as mágoas e entrarmos num acordo. Talvez também não me queira, mas me disponho a sê-lo. Se isso não te basta, apenas me poupa! Para amargar um fracasso, vodka barata é insuficiente, mas as dores físicas em meu corpo não cessam, em minha boca me diminui muito. Não dispara as tuas flechas contra o meu coração...
p.s: Licença aos artistas maravilhosos da foto! E a fotógrafa Moema Cos
3 comentários:
Vc ñ sabe o talento que tem...
seu texto é bilateralmente doloroso, rapaz... caramba! vc só ñ pode negar uma coisa: foi um aprendizado que não deixará vc ser o mesmo em relação a algus assuntos. engraçado, o último texto do meu blog dialoga com o seu: escrevemos ambos sobre figuras áticas! mto bom o texto, mto boa a oportunidade que vc teve para evoluir! flwsss!!!
eu vejo em você tanto potencial...
seja um Tireseas, seja Cleante seja Beto...eu vejo um Euller potente ainda que com calos abertos e dentes quebrados!
Postar um comentário