domingo, 10 de abril de 2011


Pensei em te ligar agora. Sobram créditos no aparelho celular e sinto frio. Na verdade, meu corpo quasenu nada sente, a não ser estafa sonolência tédio: sempre ele - o niilismo.

Pensei em te ligar. Talvez até disquei os números. "-Chamou?" Não ouvi. Há algum tempo já não nos ouvimos. Eu sempre monologozando a sua presença. Falando pelos cotovelos, joelhos, dobradiças. Você em silêncio, contemplando a linguagem. É nesses momentos que os versos-negros, as palavras-farpas te sobem ao crânio? Ou está como sempre excitado com o passado, a noite anterior, o velho-novo-revivido-amor?

Pensei em te ligar. Pensamento bumerangue, esse caminho infértil das palavras: a caneta incerta, o papel problema, as ideias vácuo. Tropeço, caio, espatifo na página em branco. Herói é o inseto!

Pensei em ligar. Para qualquer número, qualquer lugar. Ouvir uma voz nesse domingo. Ouvir qualquer coisa além das minhas censuras, meus piores devaneios. Um dia me busco dentro de mim. Sim, caí numa farsa de não ser-eu. E não me recupero.

Pensei ligar. Digito os mesmo números (seus) pela quarta quinta vez, não lembro. Somos dois ausentes. Cansados, inclusive, de intercambiar solidões. Bibelôs inconscientes dessas mocinhas. Somos os fétidos passageiros, os decadentes públicos. Os eternamente gozados (ou gozosos?). Sente esse peso nos fim das tripas? O nó de marinheiro na garganta? Tenho a impressão que só nós dois temos esse verme. Mas o mundo todo anda desnutrido, meu bem.

Pensei. Mas foi rápido. Um instante apenas. Sabia que não tinha papo. Não temos modos. Você não quer mais me escutar. Espero que continue nessa procura: a busca eterna. Porque, a conclusão ainda me desola. Soletro as letras, me despeço. "Como não estragar esse texto?" Me pergunto. Disco os números pela última vez, tu tu tu tu, não me atende

3 comentários:

Manuh das Oliveiras disse...

sempre tão bom passar por aqui...mas nossos elogios serão sempre suspeitos!

esse texto me doeu!
amo sempre

Fláviabin disse...

tu tu tu.... comum a todos nós.

Joyce Kelly disse...

E eu ouvi a tua voz enquanto lia cada linha aqui grafada.
Que cantinho mais encantador!

Adorei tudo aqui...

Abraço.