quarta-feira, 22 de junho de 2011

"De suas palpébras...
Nós.. Nós batíamos as pálpebras.
Chamava-se a isso piscar.Um pequeno
relâmpago negro, uma cortina que cai e
se ergue: deu-se a interrupção. Os olhos se
umedece, o mundo se anquila"
Sartre

Por
que eu piro quando pisca. Desejando não ser apenas um cumprimento, trivial como todas as saudações, banal como todos os amigos. Porque a piscada para mim é convite, é desejo fermentado, solidão declarada. É sexo futuro, beijos presentes. É olhar interrompido, morto, estatelado pela vontade de chafurdar em amor, em gozo. Eu te gozo em mim. Ansiando por uma conversa, um cigarro dividido, a droga na mochila - quando há de me chamar? - Eu imagino. O seu, nosso, desejo fantasiado. Porque quando passa e pisca, eu sou cratera. Um chão em declive, uma erosão. Sou apenas caco, à espera. E umedeço os lábios, mordo a língua, te desejo na garganta. Há de chegar? Os meus dedos se retorcem, pedem para navegar nos teus cachos, no teu rosto, para se perder nas tuas costas. Eu te convido, com as unhas nos dentes, para deitarmos em qualquer lugar, enquanto te ouço ao pé do ouvido, essa voz arisca, esse riso debochado. Te ouço e sou apenas ouvinte. Fecho os olhos e você sussurra, sussurra, sussurra, sussurra em mim. Em mim se faz rei, monarca, déspota. Em mim, um latifundiário! E eu sou apenas chão. Alegre por você piscar um dos olhos como quem lança uma granada no meu colo. E eu explodo, me despedaço, grito. Eu imploro: passas por mim e pisca, pisca, mais uma vez.

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