segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ela já o notava há dois semestres. Ele era frio e sulista o suficiente para se passar por esnobe. Ela tentava o olhar nos olhos e dizer o quanto o admirava assim, torto e tímido, mas ele não tirava os olhos do café quente que o tranquilizava na matina. Conhecia os gostos dele por literatura e sonhava em discutir os contos, as frases que a alucinava. No entanto, ele era imensamente interessante para o seu apetite, e, mesmo desejando beijá-lo horas a fio, não podia degluti-lo nem mordê-lo, muito menos mastigá-lo porque ele era aquele tipo de doce fino de festa de casamento, daqueles que embelezam a mesa e é pecado comer.
Um dia, meses depois de encontros em corredores com café, olhos, e livros embaixo do braço e entocado na mochila, ele se encontram novamente. Dessa vez, numa sala pequena e apertada com quatro paredes sufocantes e asfixiadoras, ele era o tirano do giz e ela a torturada presa a uma cadeira de onde desejava sair imediatamente.
Cabelo detalhadamente cortado, camisa listrada azul e branco, e café na mão, não pronunciou uma única palavra até terminar o café de outro corredores intermináveis. O café por alguns momentos era tão melhor que ela. A cada gole percorrido na garganta ela era tão pequena. O copo virado a tornava inferior e se encolhia cada vez mais. A caixa toráxica se espremendo entre os ombros. Até que ele se apresentou e trocou algumas palavras com ela. Então disse como quem comenta frivolidades:
-Já me aconteceu isso.
E ela saiu como se pisasse em plumas brancas, esperando o próximo encontro com as mesmas paredes "sartririanas", o mesmo giz na mão e o café sempre presente mas prestes a ser jogado no lixo em troca das palvras que ela pretende proferir.

Um comentário:

Marcos Vinicius Gomes disse...

Frio e sulista esnobe?
Silvio Romero ("Machado de Assis é um mulato inteligente") sorri feliz do túmulo...
Do lado de cá, aguardamos mais da terra do caju