quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Taí...

Eu fiz tudo para não gostar, para fingir que a vida era melhor sem. Nunca gostei dessas amarras do corpo, da mente. Nunca gostei de ser dois. Preferia andar por aí escrevendo poemas para ninguém, recitando versos para mim mesmo. Casei com mortos, com livros empoeirados, com projetos alheios. Quis ser totalmente meu, tipo masturbação completa: só eu e meu corpo: só eu e minha mente: só eu.Inventei amores que apodreciam com a velocidade dos frutos em praças públicas. Os meus amores eram públicos, pura literatura de quinta, sexta categoria. Pretexto para ter de quem falar. O amor, às vezes, parece isso: um pretexto. Para contar aos amigos, anotar na agenda, pensar antes de dormir. Um mero pretexto para um texto.
E hoje, você me invade com tanta calmaria, sem arrabentar as artérias, sem depredar as paredes dessa casa arruinada. Você entra, senta, me beija os lábios e vai embora, numa simplicidade que me cativa. Que me deixa assim, sem pretexto para um texto legal, visceral. Você me deixa sem poesia, desarmado nas minhas defesas, contradizendo as minhas teses sobre "o amor é uma droga que vicia os jovens...." e blá blá blá.
E eu me sinto tão bem nesse desconforto.

5 comentários:

.: YsllanZinhúHH :. disse...

Perfeito!!!
Você conseguiu expressar o que sinto em relação ao amor... O que EU sinto ou o que NÓS sentimos???

Cicero Junior disse...

Amor pretexto para a vida!!!
Cuidado nessa estrada onde se pisa em ovos...Abraço!!!

deyvid F. disse...

Mais um romântico no mundo: seja feliz.

Jonathan Omena disse...

perfeito! "Quis ser totalmente meu, tipo masturbação completa" é o que aflige quase a todos quando um amor não dá certo. Enfim, que maneira mais linda de se narrar o amor.

Fláviabin disse...

Taí... ando cada dia mais seca, e isso de pretexto é até bastante óbvio né? Um pretexto, pra quem gosta de escrever e criar, uma história vivida ao bel prazer de quem tenta. Pode ser bem cruel mesmo, mas é tão sóbrio, e é essa sobriedade que procuro no momento.
Bjo