domingo, 5 de junho de 2011

Manifesto ao teatro III*

Eu sei, senhor teatro, que o senhor anda cansado das minhas reclamações. Sei que o senhor anda compactuado com aquele cara que dizia sobre mim para todo mundo "É até talentosinho, mas nunca está feliz, reclama de tudo!" E acrescentava mais alguns xingamentos. Mas "hoje sou eu que estou te livrando da verdade, te livrando"**. Hoje eu me canso, Sr. E não é uma despedida, jogar tudo pelos ares, desistir. Quem escolhe esse caminho não o abandona jamais. O primeiro cara que se apresentou para mim como Ator, me disse uma coisa que nunca esqueço " - Quando se namora o teatro, você pode até largar, mas quando é paixão de verdade, danou-se, é para vida inteira". E eu sei que é: para toda a vida. Hoje eu sei que esse cara não é tão respeitado, que as pessoas o evitam, que ele não é feliz. Mas eu nunca duvidei da gana, do amor, da necessidade que ele tem dessa coisa chamada Teatro que não sei explicar o que é. Mas que bate uma canseira danada. Canseira de ouvir que pessoas que poderiam estar construindo comigo tem que trabalhar oito horas diárias num shopping center fodido! E que outras são apenas deslumbre, salto babado, e me encharcam de descompromisso, vaidades, falta de tempo. Cansado de ouvir as mesmas pessoas falando as mesmas coisas sem saber de onde vem o pogresso. Cansado e irritado de ouvir opiniões sem cabimento, de ver pessoas sem ter para onde correr - como eu!. Cansado de ouvir o seu nome em vão senhor, como justificativa para deslizes, como convite para agradáveis situações. Cansado de orar sozinho numa estrada pedregosa, sem reconhecimento, nem lenço, nem documento. Cansado de carregar coisas nas costas, de abusos de poder, de portas cerradas. Cansado de escrever documentos, subir ladeiras, me alimentar mal, ouvir pessoas tediantes, pasar por cima de alguns orgulhos, enfrentar os medos - sim eu quero meus medos de volta! - Cansado de ainda não saber que caminho seguir, para que lugar fugir, quais alianças fazer. Cansado das ironias finas, das invejas sorrateiras, dos dementes. Cansado de saber que é apenas um cansaço e que logo há de passar.

*é apenas um desabafo, qualquer semelhança é mera coincidência
** Ana Cristina César

Um comentário:

Diego Couto disse...

Eu, barrista que sou, reluto em dizer mas digo: acho que o cenário local já está pequeno pra vc.

Dizem que uma andorinha só não faz verão, mas se esquecem que andorinha sempre faz verão, em continentes diferentes.