domingo, 13 de maio de 2012

Manifesto ao teatro IV

Essa semana entrei em profunda crise. Tatuagem feita na canela. Indicativo de que como as formigas, estamos apenas subindo. Nada no grupo internamente me irrita, mas algo externamente urra. Com um final de semana sem público em nossos dois espetáculos em cartaz  e prestes a comemorar dois anos na próxima sexta um desânimo toma conta do meu corpo e não me deixa produzir. Mesmo com uma puta oficineira com abraço de quebrar qualquer tristeza, com pedido de texto sob encomenda, com trabalhos paralelos, eu piro. E não se trata mais de não me identificar no movimento, nem de querer desistir. Trata-se de querer sobreviver frente à um turbilhão de incoerências. Trata-se de querer vender a boa mercadoria, de assumir a identidade, de querer encontrar aquele livro que te indicaram, de colocar os planos no papel. De tomar posse da minha autoria - e dos meus. Sim, é uma necessidade louca de convencer aquelas pessoas a irem conhecer teu trabalho. Uma vontade louca de não ser apenas trabalho de formiguinha. Trata-se de exigir que projetos coletivos não se arruínem por caprichos individuais de outros. De querer um espaço digno para ensaio, condições dignas para apresentação. Trata-se de não ter que tolerar um, insitir com outro, convencer aquele acolá. De não ouvir as mesmas idiotices daqueles que julgam conhecer mais e melhor apenas porque nasceram antes de você. De perguntar a todos que se dizem "artistas" porque eles não frequentam os teatros. De entender porque fazemos festival e para quem? E para quem estamos em cartaz? Uma necessidades muito grande de que as pessoas entendam que não me interessa montar espetáculos similares ao Zorra Total, pois prefiro a ausência de pessoas à esvazia-lás com babaquices. De querer formar grupos de discussão e até mesmo terapêuticos. Uma necessidade de que entendam que a forma com que me organizo não deve ser das melhores, mas que por ora serve a um ideal. Que entendam isso: há um ideal. De não pensar em sair dessa cidade para buscar conhecimento, mas de transformar essa cidade com conhecimentos. De não ter medo de choques elétricos, de atrizes vaidosas, de críticas daqueles que não produzem, de incomodar os reis. De acreditar que não há retaliações, conchavos, puxadas de tapete e de saco,  vingança, corrupções, cachês atrasados, discussões inutéis, repetições de ideias, homenagens vãs... E acreditar que há sim, culpa.

- eu assumo a minha.

Um comentário:

Manuh das Oliveiras disse...

sem meias palavras, sem meias verdades...