domingo, 6 de julho de 2008

A menina que roubava livros e o demônio que rouba pensamentos

Liesel morreu ontem, purificando minhas dores e as dela. Morreu lembrando os mortos e as palavras que a perseguiam durante o único momento da sua vida que a interessava. A meninice que a tornou mulher. O amor não vivido em beijos, o amor vivido em cores de cabelos e em roubos de livros. O silêncio de acordeão e as ofensas mais deliciosas dadas por uma mãe. Retratou em prosa os momentos mais amargos e os mais felizes que me levaram as lágrimas e a ânsia de vômito. A morte que se submeteu a vívida vida dela.
Liesel me levou por longos caminhos e a leitura vagorosa me permitiu estar só e refletir sobre o meu demônio que me segue e é extremamente indeciso. Nos meus sonhos impossíveis e nas palavras rarefeitas que capturo com minhas mãozinhas, percebo a minha inocência cativante, repugnante, idiota.
O demônio retorna para a sua casa. Ele vive nos porões inconscientes de Maxs e Hanss... Demônios que trazem infelicidade e impedem de conhecer a cor do céu de cada dia. Humanos psicopatas incapazes de qualquer coerência.
Morangos mofados! Não faz parte da sua demonologia? È câncer na alma. Tua boca tem esse gosto. Gosto de cigarro de morango mofado. Quem de nós é a Liesel? Você seria capaz de levar chicotadas em praça pública por um amigo que morou no seu porão? Como você se ergueria dos escombros e carregaria o acordeão de teu pai? Que prazer é esse em me fazer penar? Purificar! Faz uma bela tragédia e grita algo mais forte que um “deixe-me em paz”. Vai se amargurar em outra esquina, onde é permitido fumar. A chuva cai lá fora e se eu saio, é porque quero me molhar. Seja meu cicerone então. Canta uma canção rasgada que seja só sua e de mais ninguém. Abre a porta e deixa eu entrar, já tenho dificuldades suficientes. Sabe de uma? Se atira! Ou então, vem logo! Se entrega, ou simplesmente renega. Não me ilude não.
Talvez eu mereça as chicotadas e as migalhas de pão aos meus pés. Mereço, por me recusar a roubar as palavras que me são ofertadas. Por ficar do lado do Hitler que está matando a todos nessa Rua Himmel.

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