domingo, 22 de agosto de 2010

Retorno à UFS


Se a madrugada inspira, o dia apavora. Pela manhã os corpos parecem estar prontos para o grande abatimento humano, onde todos são transportados em pequenos cubículos pela estrada afora. Assim, há as vestes matutinas, o sorriso acolhedor que intima, a pressão pela resposta certa, o futuro certo, a vida certa.
Nessa rotina do dia-a-dia as palavras perdem a conotação, a poesia se expira, o vocabulário se extingue. E a linguagem se torna cotidiana. É a poesia monossílábica que vigora, a de palavras rápidas, mínimas, coisas que flutuam sempre na superfície. Superfície onde todos se afogam.
Numa dessas manhãs de agosto, o cara lacaniano me falou da ausência que assola a todos. Da frequente fala que nos permite continuar vivos. Vestido de preto e branco, celular pendurado na cintura e relógio de fivela no pulso, me contou a história da velhinha que quando descobriu ter tudo, morreu. E então, percebi que até essa falta imensa que sinto não me torna protagonista de nada. A lacuna é coletiva, descobri.
Nesse instante, percebi que até a minha agonia, o meu vazio existencial que romanceava, até ele era comum. Comum como todos os desejos, expectativas, planos que poderia ter tido. Foi aí que passei a não crer nem mesmo no vazio que cultuava.

Um comentário:

Fláviabin disse...

a UFS é maluca mesmo...
tenho saudades...
eu também romanceio demais essa vidinha.