terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mãos

"As mãos são mais culpadas no amor
Pecam mais, acariciam mais
O seio é passivo
a boca apenas se deixa beijar,
o ventre apenas se abandona.
mas as mãos, não. São rápidas e quentes,
percorrem o corpo"
(senhora dos afogados, Nelson Rodrigues)

Ainda lembro das tuas mãos sobre as minhas mãos, das minhas sobre as suas. Não sei ao certo quais eram as minhas e quais eram as suas. Sei que lembro a textura, o movimento dos dedos, o palpitar da pele. Sei que lembro da demora com que elas se tocaram. Havia medo, receio, o gosto da espera, sei lá. Mas, após o primeiro toque, punho- pelos-articulações trabalharam em conjunto. Parecia afronta, uma bestial novidade, uma necessidade louca de ter. Eram apenas mãos que se encontravam sôfregas, desejando ardentemente as carnes, as veias, o sangue. Mãos friccionadas umas pelas outras, um farfalhar de primeiras ideias, intenções segundas, vontades urgentes. As mãos: Sedentas, possuidoras, canibais. Lascivas mãos que não se largavam e que se comportavam como meninas travessas cruzando as pernas numa avenida qualquer. Mãos indisciplinadas, revoltas. Mãos que juntas procuravam uma explosão qualquer. Mãos que separadas perdem a força. Mãos, cê quer?

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