sexta-feira, 18 de dezembro de 2009


Você já saiu de casa? Arrumou suas malas, ou foi posto para fora?
Quando era criança eu tinha essa mania. CHorava horrores. Aos prantos ia jogando as roupas dentro da mochila: shortes, camisas, cuecas, escritos. Jogava tudo dentro, mas não fechava o zíper. Sentava e enxugava as lágrimas amargas de um filho incompreendido. Então, minha mãe vinha sentava ao meu lado e me dizia algo reconfortante. Quando era meu pai, mandava que tomasse um guaraná com biscoito recheado. E aí eu me conformava, a rua era perigosa, não tinha dinheiro e os amava. Além do mais adorava guaraná com biscoito recheado.
Agora, é a hora de arrumar as malas, mas não há shortes, camisas, cuecas, escritos. Há apenas algumas técnicas incorporadas ao corpo, algumas certezas de vida que serão postas à prova. A convivência com duas ou três pessoas adoravéis. Não verei mais os defeitos de Cacilda Becker, não ouvirei os sábios conselhos do velho-novo autor, não compartilharei do silêncio mais reconfortante de uma peste.
Seguirei dias mais amenos e poderei conferir aquela série de tv tão querida, receber familiares com calma, discutir em sala de aula as leituras da véspera, escrever bons artigos científicos - pena que não dá mais para tirar um 10 no James - . Poderei ficar de bobeira, ler um romance de Veríssimo. Sonhar mais com meus próprios projetos. Montar as bonecas de Luzinete, porque não? Correr atrás dos velhos amigos e implorar atenção. Engordar alguns quilos. assitir sessão da tarde, me irritar com o tédio do domingo, escrever algumas cartas (escrever um conto, escrever um romance que não terá fim, escrever uma nova peça que será engavetada até que outra seja escrita).
O que não pode acontecer é sentar, enxugar as lágrimas, esquecer as afrontas, deixar o zíper aberto, contentar-se com migalhas. É preciso sair de casa dessa vez. Não compactuar mais com a representação equivocada de um pai. Dar adeus a um trabalho sem recompensa moral, nem ajuda de custos. Não precisar medir palavras. Crescer. E te deixar aqui... afundando.



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