segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nada poético II


Somos dois. Cada um com seu espelho. Eu não me vejo no teu. Você se ver no meu? Sim, é um convite. Venha: demore bastante aqui defronte, percorra todas as letras, soletre as palvras, depois leia devagarzinho as frases - parágrafos - até sentir o texto completo. Agora me responda bruscamente: Se vÊ?- te pergunto isso enquanto te digo poéticamente "A palavra nos desnuda, fato!". Por que eu faço o mesmo processo com o teu espelho. Eu olho lentamente, tento me encontrar nas palvaras, unir as frases, desbravar o intertexto: - Onde estou? Onde estás? - me pergunto. Parece que brinco de Onde está a Dulce Veiga? - Brincamos?- . Ás vezes eu te acho distante, as vezes eu olhoolhoolho e acho que estou olhando o espelho errado. E cada vez que eu olho no seu espelho eu me sinto ainda menor, como se minha face se dissolvesse, como se meu rosto se dissipasse! E nessas horas eu sinto um medo tão triste, um medo recorrente de perder. Ou pior: viajo que isso é uma mentira que contei para mim. Que não há espelhos, que não "havemos". Termine: dê a última olhada e diga que sim, que se encontra no meu espelho. Uma mentira doce que seja. Sabe o que deliro às vezes que olhar teu espelho é perder-se e eu só te encontro quando te olhoolhoolhoolho no olho.

Um comentário:

Cicero Junior disse...

Num espelho sempre existe um reflexo!!!
Eu me vejo, eu te vejo mesmo sem precisar encarar, as até mesmo vezes sem querer...todos nós nos estranhamos em alguns momentos...