quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Tantas coisas nunca serão ditas. Minha mão não tocará mais seu rosto, arranhando a ponta dos meus dedos: você não me pertence mais.Não rasparei as suas digitais deles é a sobra que me resta. È agora do mundo. Dele. Daquele a quem quis pertencer depois de pertencer exclusivamente a mim, numa entrega intensa que me incomodava e me amedrontava. Talvez tenha sido a paixão demais, a sua subserviência, a certeza de uma felicidade não-comum, mas presente, sua-minha-nunca-nossa!
Eu que destruir a casa pré-fabricada que você construía com suas próprias mãos, cimento, ardor, enquanto eu ficava apenas ordenando que rabiscassem as paredes com poemas e sonetos de amor inexistentes. Acabei pintando tudo de preto e cinza e não sobrou nem um muro descascado para contar que ainda te amo, com uma força que brota da admiração, único embasamento consistente para o meu amor doente e manco. Sempre disseste as coisas em tempo certo. E apenas eu era o torto, o que ia na contramão mesmo tendo os mesmos objetivos. Porque eu sou insuficiente para mim mesmo, a tal ponto que não percebi que você me bastava, completava, podava. E desviava as minhas raízes peçonhentas para um terreno mais fértil. Seus poemas brotam sempre do estômago e perfuram esse pobre coração que só erra e se engana. Meus textos agora são apenas depressão e gordura.
E eu não acho aquele texto que te escrevi, ele cessaria essas lágrimas de conformidade que brotam das raízes que não seguiram aquele caminho proposto. Porque eu preciso provar para mim mesmo que eu alimentei – e aqui essa palavra me traz uma significação precisa – durante três semanas . Esse amor que depois pareceu tão seu, resignado.Porque eu, insatisfeito, queria que você lutasse mais por quem não merecia, que berrasse rompendo o tempo imposto. Perdi tempo tentando mostrar seus erros e não procurei os meus, porque sou egoísta, pequeno e orgulhoso. Eu sou mesmo feito de venenos e chagas. Eu sobro nas rodas, e parece que ando fugindo desse corpo arredondado.
Eu queria apenas voltar atrás, apagar tudo com as borrachas pretas que sumiram naquele casarão e que dissesse sim pra mim. Porque meio Medéia , só que indigna de tal termo eu matei nossas filhas não nascidas, e você as enterrou com vinho maravilha e baseados.Eu te maltratei como carrasco e agora me retribui todas as ofensas sutilmente, subliminarmente, tacitamente. Como as ideologias do romance. Você é uma ideologia que eu tive em mãos e sangue, e estraçalhei numa voracidade indigna.
Quando ele me apareceu senti medo daquelas baforadas angelicais e perfeitas, pensei que ele fosse roubar aquela paixão furtiva e inventada por mim com objetivo que não sei. Eu não podia imaginar que era a você que perdia dia após dia.
E algumas coisas me forçavam a humilhação temporária porque ainda respirava todas aquelas fantasias nossas, mas me recompunha com outras preocupações inferiores e não minhas. Você não vem mesmo e eu preciso esquecer toda essa história para progredir, pois não posso mais justificar minhas impossibilidades com paixões malfadadas.
Vou esquecer desconstruindo outra coisa destinada ao fracasso, e na virada, ao som dela eu vou esquecer da coisa mais importante desse ano, talvez a única. Afinal, eu esqueci as coisas importantes dos outros anos.18/12/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

OO' caraca!
[sem palavras. Estou extasiada!]